"A melhor tradição do Itamaraty é saber renovar-se", disse o então chanceler Azeredo da Silveira em 1975. A frase virou um mantra repetido à exaustão tanto por diplomatas quanto por estudiosos da política externa. Por muito tempo, essa fórmula serviu para resguardar nossa diplomacia de interferências externas, sobretudo da sociedade, do Parlamento e do cidadão comum. Uma diplomacia que se queria autônoma, de profissionais treinados, capazes de formular e executar uma política externa eficaz.
Essa insularidade está prestes a ser rompida. Ao contrário do que reza o senso comum, a alta qualidade dos quadros do Itamaraty não justifica nem legitima seu isolamento. É preciso aproximar esses polos, uma vez que o governo da tecnocracia, afastado do povo, é a receita certa para decisões descoladas dos interesses reais da maioria e para grandes erros. É a senha para uma democracia debilitada, em que corporações dão as cartas, ideologias insidiosas proliferam e as aspirações populares tornam-se uma vaga lembrança.
Ao abrir os caminhos em Washington para visita do deputado Eduardo Bolsonaro aos EUA, pude observar a importância de levar uma nova mensagem a nossos principais interlocutores no exterior. A mensagem de um povo que resolveu tomar as rédeas do Estado para reformá-lo, acabar com corporativismos e promover os valores da maioria.
A visita do deputado, ao contrário do noticiado, foi uma celebração da chegada do chanceler Ernesto Araújo ao Itamaraty e da ruptura com a ideia de tecnocracia, aproximando a vontade popular dos rumos de nossa diplomacia.
Neste novo momento, a tendência é que o Itamaraty deixe de ser correia de transmissão da visão homogeneizante que caracteriza as elites cosmopolitas da qual fazem parte as burocracias diplomáticas autônomas. Em vez de importar acriticamente conceitos forjados alhures, o que se chama de globalismo, abre-se o caminho para uma política externa que cria espaços onde as aspirações de nosso povo prevaleçam. Isso vale para os valores ocidentais, para a promoção da democracia e a condenação de ditaduras brutais e a busca de uma inserção econômica competitiva, privilegiando parceiros que podem ajudar no nosso desenvolvimento.
Apesar da coragem em defender posições importantes para nosso país, com um corpo técnico de qualidade reconhecida internacionalmente, no passado recente nossa política externa deixou de assumir valores que nos definem como nação. Não raro nossa diplomacia, a serviço de governos passados, acabou por negociar laços com tiranias em nome da solidariedade ideológica, em contradição com a índole do povo brasileiro --isso quando não foi conivente com transações duvidosas que hoje causam prejuízo ao contribuinte, no lugar de se dedicar à abertura de mercados, atração de investimentos e negociação de acordos para inserir-nos nas cadeias globais de valor.
Não é fácil confrontar o senso comum disseminado. Uma política externa democrática precisa de um Itamaraty que seja instrumento da vontade popular e não uma redoma de iluminados, descolados de um povo que neste momento se transforma em farol de nossa diplomacia. Política externa é buscar o interesse nacional livre de ideologias. Ao renovar-se, refletindo a vontade do povo, o Itamaraty se aproxima de seu maior propósito.
Política externa e o povo
Insularidade do Itamaraty está para ser rompida
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