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José Ricardo Roriz Coelho

Se oriente, Brasil

Chineses nos acenaram; que nós acenemos de volta

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José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Fiesp, em entrevista à Folha - Karime Xavier - 5.jul.18/Folhapress

A China é superlativa por natureza e vocação. Território, população, economia --para onde quer que olhe, o visitante vai se admirar com a grandeza e a pujança que não são de hoje. A novidade é que tais condições estão gerando oportunidades proporcionalmente abundantes.

Não é preciso colocar os pés na China para chegar a essa conclusão. Bastaria prestar atenção às projeções: o país continua crescendo com vigor (mesmo que não mais a taxas de dois dígitos, como alguns anos atrás) e deverá desbancar os Estados Unidos em 2028, quando assumiria a posição de maior economia do mundo, segundo a EIU (Economist Intelligence Unit).

Uma estada em Xangai e outras metrópoles chinesas, no entanto, ajuda a aguçar a percepção de que os rumos do comércio externo passarão cada vez mais pelo gigante oriental. Foi o que ficou claro para um grupo de empresários brasileiros que esteve no país recentemente para participar da China Internacional Import Expo (CIIE).

A feira foi um marco nas relações comerciais entre Brasil e China. O grupo organizado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), com 120 empresários representando 70 companhias, prospectou negócios num ambiente altamente receptivo.

Segundo o governo chinês, negócios de US$ 57,8 bilhões foram fechados durante o evento, que contou com 3.617 expositores de 172 países ou regiões e atraiu 800 mil visitantes. Os números chamam a atenção, mesmo para os padrões chineses. Mas mais importante do que a realização de negócios foi a oportunidade que os empresários brasileiros tiveram de se apresentarem como fornecedores de produtos de maior valor agregado.

A China passou a ser em 2009 o maior parceiro comercial do Brasil. O movimento anual nas duas direções é da ordem de US$ 75 bilhões, de acordo com dados oficiais do governo brasileiro relativos a 2017. A China é responsável por 22% das nossas exportações e absorve 18% das importações.

Essa estatística, no entanto, camufla o fato de que os navios que cruzam os mares levando produtos brasileiros estão repletos, basicamente, de commodities, com baixo valor agregado. Apenas 4% de nossa pauta de exportação para a China é composta por produtos manufaturados, segundo o Ministério da Indústria e Comércio Exterior. Outros 10% são semimanufaturados. O grosso (86%) é commodity.

Exportamos soja, quando poderíamos vender também derivados processados do grão; embarcamos minério de ferro, em vez de também produtos de aço manufaturado; celulose, e não também papel, impressos e embalagens; e carne in natura, quando as margens mais robustas estão nos alimentos elaborados ao gosto e hábitos do destino. 

Esses quatro produtos (soja, minério de ferro, celulose e carne) representam, junto com o petróleo, nada menos do que 87% de nossas exportações para a China.

O número dá a medida das oportunidades que o Brasil tem pela frente. Afinal, o que está em tela é o segundo maior importador do mundo (com US$ 1,5 trilhão) e o líder das exportações (US$ 2 trilhões).

É hora de o Brasil aproveitar as chances que se apresentam. A guerra comercial entre China e Estados Unidos pode abrir uma ou outra porta para exportadores brasileiros. Não há razão para não se aproveitar de oportunidades pontuais.

A médio prazo, porém, o Brasil precisa se preparar para ter uma política comercial externa consistente para não perder esse trem. Os empresários estão fazendo a lição de casa, seja aprendendo a interpretar as exigências do cliente, seja encurtando a distância cultural. O estímulo do governo viria de desonerações para os empreendedores e da desoneração tarifária, sincronizada com o aumento da competitividade de se produzir no Brasil, entre outras iniciativas.

As vantagens vão além do saldo na balança. O aumento do fluxo comercial tende a modernizar nossos processos e trazer mais produtividade e agregação de valor aos nossos produtos, o que contribui para fortalecer o crescimento da economia. 

Com a feira de Xangai, os chineses acenaram ao Brasil. O protocolo recomenda que acenemos de volta.

José Ricardo Roriz Coelho

Presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) e vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo)

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