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Terror colombiano

Atentado mostra que o processo de pacificação está sujeito a eventuais retrocessos

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Especialistas trabalham na cena do ataque à escola de treinamento de policiais em Bogotá; janelas foram quebradas na explosão
Especialistas trabalham na cena do ataque à escola de treinamento de policiais em Bogotá; janelas foram quebradas na explosão - Juan Barreto/AFP

A Colômbia já deixou para trás o período em que o Estado se ajoelhava ante o narcotráfico e os grupos guerrilheiros, uma triste realidade nos anos 80 e 90. Entretanto um atentado no último dia 17 mostrou que o processo de pacificação, ainda em curso, está sujeito a eventuais retrocessos.

Um carro-bomba explodiu em uma academia de polícia em Bogotá, resultando na morte de 20 pessoas, a maioria das quais cadetes de 17 a 22 anos. A ação abjeta foi reivindicada nesta segunda (21) pelo ELN (Exército de Libertação Nacional), grupo que o governo apontara como responsável.

Atualmente, trata-se da única guerrilha em atividade no país, pois a maior delas, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), abandonou as armas e ingressou na política depois de celebrado um acordo com o Estado

Festejado internacionalmente, o tratado rendeu ao ex-presidente Juan Manuel Santos o Nobel da Paz em 2016, mas não conquistou unanimidade interna. Os questionamentos aumentaram diante da dificuldade de negociar com o ELN.

Estabelecida em fevereiro de 2017, a conversa desde o início sofreu com a resistência da facção em renunciar a sequestros e extorsões, sob o pretexto de que tais práticas eram seu único meio de financiamento. Santos chegou a obter um cessar-fogo de três meses, mas a guerrilha voltou a promover ataques logo após a trégua.

A tensão aumentou com a eleição de Iván Duque. No poder desde agosto de 2018, o afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe —crítico contundente dos termos do acordo com as Farc— decidiu suspender a mediação com o ELN e a condicionou ao fim de qualquer ação violenta.

Duque tem razão ao afirmar que a responsabilidade pelo fracasso das tratativas recai exclusivamente sobre os guerrilheiros. Não há condições mínimas de interlocução diante de um ato terrorista, muito menos quando a organização que o pratica considera algo “lícito dentro do direito da guerra”.

A persistir a recusa a uma solução pactuada, o presidente se verá impelido a tratar o ELN como o grupo criminoso que tem se provado, sem merecer nenhuma dose de confiança do Estado. Num indesejado cenário de confronto aberto, caberá redobrar a segurança pública, pois o risco de um novo atentado sempre estará à espreita.

Espera-se, contudo, que o governo tenha o equilíbrio necessário para não fazer desta tensão de momento uma ameaça à trajetória positiva da Colômbia na superação das organizações criminosas.

editoriais@grupofolha.com.br

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