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Como fabricar crises

Filho de Bolsonaro, humilhação de ministro e inabilidade do presidente ampliam turbulência

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O presidente Jair Bolsonaro participa da cerimônia de transmissão com o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente Jair Bolsonaro participa da cerimônia de transmissão com o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), no Palácio do Planalto, em Brasília - Eduardo Anizelli - 2.jan.2019/Folhapress
 

A crise deflagrada pela revelação de desvios ocorridos no partido do presidente Jair Bolsonaro desdobrou-se de forma espantosa nesta semana ao atingir o centro nervoso do Palácio do Planalto —e por iniciativa do próprio mandatário.

Como esta Folha demonstrou numa série de reportagens, acumulam-se evidências de que verbas públicas recebidas pelo PSL na campanha eleitoral foram destinadas a candidaturas de fachada.

Em Minas Gerais e Pernambuco, postulantes que alcançaram resultados insignificantes nas urnas foram aquinhoados como campeões de votos e usaram o dinheiro para pagar gráficas e outros serviços que agora não conseguem explicar.

Na quarta (13), as suspeitas atingiram o ministro Gustavo Bebianno, que presidiu o PSL durante a disputa e chefia a Secretaria-Geral da Presidência desde janeiro.

Homem de confiança de Bolsonaro, ele teve como uma de suas atribuições a divisão de fundos entre os diretórios estaduais —e era previsível que um dia seria chamado a prestar contas do que fez.

Ninguém esperaria, porém, o que aconteceu depois. Bastou Bebianno dizer numa entrevista que discutira o problema com Bolsonaro para que um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, o atacasse nas redes sociais.

Carlos não só chamou o ministro de mentiroso como divulgou uma mensagem de áudio enviada pelo pai ao ministro horas antes, em que sugeria deixar a discussão do assunto para outro momento. O próprio presidente contribuiu para a escalada da crise ao republicar as postagens do filho.

De modo mais sensato, também disse a uma rede de TV que Bebianno deveria se afastar em caso de comprovação das suspeitas que pesam sobre sua conduta.

O ministro disse não ter feito nada de errado e avisou que não sairia sem falar com o chefe. Bolsonaro colocou-o na geladeira, evitando contatos enquanto a turma do deixa-disso entrava em campo.

No início desta sexta (15), ventilou-se de início que Bebianno continuaria no cargo até a conclusão das investigações. No final do dia, entretanto, previa-se sua demissão em questão de horas.

O episódio expôs de forma crua a desinibição com que os filhos do presidente se intrometem nos assuntos do governo e deixou evidente o desinteresse de Bolsonaro em domar os instintos da prole.

Ao humilhar um colaborador que guarda os segredos de sua campanha e sempre agiu como devoto fiel, o presidente também deixou patente sua inabilidade como gestor de crises e operador político.

Tudo que Bolsonaro conseguiu foi alimentar desconfianças ao seu redor. Num momento em que precisa buscar apoio para uma ambiciosa reforma da Previdência, o preço a pagar logo ficará claro.

editoriais@grupofolha.com.br

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