Descrição de chapéu

Na geladeira

Transferência de embaixada é o tipo de promessa que o governo gostaria de ver esquecida

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O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante entrevista à imprensa no Palácio do Itamaraty, em Brasília
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante entrevista à imprensa no Palácio do Itamaraty, em Brasília - Sergio Lima/AFP

A ideia de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém caminha, ao que parece, para se enquadrar no tipo de promessa de campanha que o governo gostaria de ver esquecida.

Em Jerusalém se encontram a sede do Executivo israelense e a Knesset, o Parlamento. Mas, como a cidade é objeto de disputa com os palestinos, que também a reivindicam como sua capital, praticamente todas as nações mantêm suas embaixadas em Tel Aviv, à espera de um acordo de paz definitivo.

Sucessivos governos israelenses aceitaram bem essa situação, sem cobrar nem de seus aliados mais próximos que transferissem suas representações. Foi para atender a apelos de seus públicos internos que primeiro Donald Trump e depois Jair Bolsonaro (PSL) prometeram a mudança de embaixada.

Ambos quiseram agradar a grupos de eleitores evangélicos que, por razões teológicas, acreditam que uma Jerusalém sob controle dos judeus seja precondição para a volta de Cristo à Terra.

O governo de Binyamin Netanyahu, é claro, apreciou o inesperado presente. Já os países islâmicos viram na atitude uma injustificada tomada de posição pró-Israel.

Os Estados Unidos, ainda a principal potência do planeta, podem proceder à mudança sem temer retaliações diplomáticas ou comerciais. O Brasil, obviamente, não goza do mesmo estatuto. Está sujeito a represálias —fala-se, por exemplo, no corte de importações de produtos como as carnes “halal”, abatidas segundo os rituais islâmicos.

Já começaram, por sinal, as pressões para que o governo Bolsonaro desista da intenção. Foi exatamente esse o motivo do encontro, na última quarta-feira (6), do chanceler Ernesto Araújo com seu homólogo da Turquia, Mevlüt Çavasoglu, em Washington.

O mais provável neste momento é que o presidente, mesmo sem renunciar explicitamente à promessa alardeada aos quatro ventos, a coloque na geladeira.

Afinal, encontrar um terreno adequado para uma embaixada pode demorar muito tempo. Essa se afigura a melhor solução a essa altura, mas não deixará de constituir um pequeno estelionato eleitoral.

editoriais@grupofolha.com.br

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