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Carlos Augusto de Barros e Silva

O torcedor e o oportunista

Investida contra o clube tem razões privadas

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Carlos Augusto de Barros e Silva, presidente do São Paulo Futebol Clube, durante entrevista na Barra Funda, zona oeste paulistana, em abril do ano passado
Carlos Augusto de Barros e Silva, presidente do São Paulo Futebol Clube, durante entrevista na Barra Funda, zona oeste paulistana, em abril do ano passado - Rivaldo Gomes - 3.abr.18/Folhapres
Carlos Augusto de Barros e Silva

Se tiver sorte, Luís Roberto Demarco um dia será idoso como eu. Quanto a mim, tenho sorte de nunca ter sido um jovem como ele. Empresário de trajetória equívoca, envolvido em escândalos rumorosos, amplamente divulgados pela imprensa desde o final dos anos 1990, o personagem não é um simples torcedor e sócio do São Paulo Futebol Clube, como se apresenta em texto neste jornal (“A tragédia tricolor”). O que de fato liga Demarco ao São Paulo é sua ambição em tirar proveito financeiro da instituição. Por isso minha surpresa ao ver seu artigo em espaço tão nobre.

Aproveito a inesperada ocasião para esclarecer algumas coisas ao leitor desta Folha e, em especial, ao torcedor do São Paulo.

Demarco decidiu cobrar R$ 300 mil do clube que tenho a honra de presidir por um software que antes havia disponibilizado gratuitamente, de forma documentada. Levou, ainda, a infundada cobrança à Justiça. Ao protestar, no entanto, reduziu a cobrança para R$ 50 mil, valor seis vezes menor que o reclamado anteriormente. O esforço se converteu em fracasso, e a cobrança foi considerada indevida. É irônico, diante deste fato, que em um dos trechos de seu artigo seja dito que interesses pessoais se sobrepõem aos do clube.

Além da demagogia, Demarco dedica boa parte de sua peça a criticar o que ele chama de “gerontocracia”. Confesso, com algum temor, que desconhecia o nível da ojeriza do autor aos idosos. Sua atitude, supostamente moderna, é preconceituosa e — ela sim— velha. Os conselheiros do São Paulo são parte de sua história. Ajudaram a construí-la com abnegação e paixão e não merecem ser tratados com tamanho desdém. 

Esta gestão reúne pessoas de todas as idades. Mais do que isso, é uma gestão que obteve avanços concretos e expressivos no rumo da modernização. Aprovamos o novo Estatuto Social, que implementou o Conselho de Administração e a Diretoria Executiva, com a consequente e tão almejada profissionalização da gestão do futebol. Vale refrescar a memória —até dos mais jovens: reduzimos o endividamento do clube e o retiramos das páginas policiais, nas quais esteve imerso.

Sei que nada disso é suficiente quando os resultados não aparecem dentro do campo. A insatisfação do torcedor diante de tantos anos sem título é mais do que compreensível. O são-paulino pode ter certeza de que essa angústia também é minha. Cabe a nós, dirigentes, trabalhar com serenidade e persistência para reverter esse quadro.

A opção por André Jardine foi feita com a convicção de que ele representava o caminho para a modernização do futebol do São Paulo. Não deu certo neste momento, a despeito do excelente profissional que ele revelou ser em sua trajetória vitoriosa nas categorias de base e de seu caráter exemplar. Quem conhece o futebol de perto sabe que a distância entre o céu e o inferno é frequentemente muito curta. 

Não devemos, apesar de todas as adversidades, nos desviar do caminho da seriedade e da profissionalização, tão bem encarnadas na figura de Raí. É preciso saber separar a justa frustração do torcedor da ação dos abutres e dos oportunistas. Quanto ao senhor Demarco, desejo apenas que envelheça com dignidade.

Carlos Augusto de Barros e Silva

Presidente do São Paulo Futebol Clube desde 2015

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