O lançamento do pacote anticrime do ministro Sergio Moro, da Justiça, coincidiu com a deflagração de duas operações da Polícia Federal de elevado impacto político.
Sintomaticamente batizada de Ad Infinitum, a 60ª fase da Lava Jato prendeu Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor da Dersa (estatal responsável pelas rodovias paulistas) nas gestões tucanas de Geraldo Alckmin e José Serra, entre 2005 e 2010.
Na mesma manhã de terça-feira (19), a Operação Fantoche, realizada em parceira com o Tribunal de Contas da União, levou à prisão, em Brasília, do presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, entre outros alvos.
O caso de Paulo Preto quase dispensa apresentações. Há quase uma década as suspeitas acerca de sua atuação no governo de São Paulo atingem expoentes do PSDB.
A PF também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-chanceler Aloysio Nunes, que decidiu deixar o posto de presidente da estatal Investe SP no governo João Doria.
Conforme testemunhos e investigações, o ex-auxiliar teria movimentado mais de R$ 100 milhões em contas na Suíça, originários de propinas, de 2007 a 2017. Divulgou-se ainda um relato de que ele teria valor semelhante, em espécie, mantido em um bunker.
Paulo Preto é réu em duas ações da Lava Jato na Justiça paulista. A investigação mais recente, porém, foi remetida para Curitiba, por alegadas conexões com a Petrobras.
Já a apuração que envolve Robson Andrade só agora ganha os holofotes. O presidente da CNI teria parte, ainda não devidamente detalhada, em um esquema para desviar recursos do chamado Sistema S, que abrange entidades paraestatais de serviço social e qualificação profissional como o Sesi e o Senai.
O episódio abala a imagem de uma entidade empenhada, justamente, em defender a permanência das contribuições compulsórias que sustentam o Sistema S e são geridas pelas federações e confederações empresariais —arranjo que o Ministério da Economia já manifestou a intenção de rever.
As operações quase simultâneas dão mostra renovada da vitalidade do aparato jurídico-policial que desvendou casos de corrupção em escala inédita nos últimos anos. Que assim continue, embora arbitrariedades e casuísmos frequentes mereçam atenção redobrada.
Do ponto de vista político, seu efeito ainda tende a ser favorável para um presidente que se elegeu com discurso moralizador e levou Sergio Moro para sua equipe.
Entretanto o ex-juiz da Lava Jato —que decidiu fatiar seu pacote legislativo, dando tramitação separada à criminalização do caixa dois— ainda está por ser testado na disposição de tratar com rigor temas embaraçosos para o governo.
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