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Alessio Costa Lima

A rede pública de ensino deve priorizar o método fônico de alfabetização? Não

Além de um método

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O professor de Ciências Ivonilton Fonseca dá aula na rede pública do Rio de Janeiro; ele concilia aulas em laboratório com curiosidades históricas de alimentos usados nos experimentos - Raquel Cunha - 23.mai.17/Folhapress
Alessio Costa Lima

Depois de quatro anos de discussões sobre a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), estados e municípios chegaram à fase de revisão, construção e aprovação de currículos. Com a homologação desses documentos, as escolas deverão discutir seus projetos de política pedagógica com as comunidades.

O currículo deve adequar as proposições da base à realidade local, respeitando o contexto, a diversidade e as características dos estudantes, segundo o artigo 8º da resolução 2/2017 CP/CNE, que instituiu a BNCC. 

Quanto às metodologias e estratégias didático-pedagógicas, o inciso 3 do artigo 8º explica que elas devem ser diversificadas e aplicadas com conteúdos complementares de maneira a respeitar os ritmos de cada conjunto de alunos, sua cultura, suas famílias e seus grupos sociais. 

Tal premissa vale da educação infantil ao último ano do ensino fundamental, o que inclui, também, a questão de definição dos métodos de alfabetização.

Em 2018, 5.763.169 crianças estavam matriculadas nos 1º e 2º anos do ensino fundamental. Dessas, 3.839.514 estavam sob a responsabilidade das redes municipais de ensino. Imaginem decretar que, a partir de agora, todas essas crianças, das 5.568 redes municipais de ensino do país, deverão ser alfabetizadas apenas por um determinado método, ou “prioritariamente” por um método de alfabetização, independentemente de seus méritos e/ou limitações.

É sempre importante relembrar que a Constituição Federal determina que o ensino será ministrado com base no pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.

Compreendemos que a definição de um método de alfabetização representa uma série de escolhas referentes a didáticas; organização do tempo e espaço escolar; conhecimentos, habilidades, atitudes, valores, aprendizagens essenciais a serem desenvolvidas; seleção de materiais pedagógicos; processo de avaliação; entre outras. Tal definição se dá, de maneira coletiva, considerando o currículo da rede e o projeto político-pedagógico da escola, mas, principalmente, por meio do conhecimento e da vivência do professor sobre a aprendizagem de seus alunos. 

O importante para o professor e para o gestor é garantir o direito à educação, à alfabetização e à aprendizagem das crianças. E não cumprir à risca a exigência legal por um determinado método, ou sua imposição por meio de uma política pública nacional, desrespeitando e ferindo a autonomia pedagógica do professor, resguardada pelos princípios da educação.

A alfabetização, em toda a sua complexidade, é constituída por um conjunto de saberes. Assim, o conflito entre concepções e métodos não pode deixar que o objetivo maior não seja alcançado: garantir a aprendizagem e alfabetizar as crianças. 

Entendemos que o melhor método de alfabetização é aquele utilizado com segurança pelo professor e que leve os seus alunos à aprendizagem.

 A nossa experiência aponta que não é o método específico isolado que garante o sucesso de aprendizagem, mas, sim, o conjunto de fatores que circunscreve o processo de alfabetização, tais como: as condições de trabalho ofertadas; materiais didáticos e pedagógicos adequados e suficientes; professores devidamente habilitados e qualificados; acompanhamento pedagógico e processos de avaliação. 

Por isso, é preciso pensar em políticas de Estado democráticas, dialogadas, participativas, integradas e de maneira continuada, buscando avançar sempre.

Alessio Costa Lima

Presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação)

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