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Alexandre Schneider e Fernanda Campagnucci

Governo aberto é mais eficiente

Mais transparência fortalece laços com a população

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O ex-secretário municipal de Educação de São Paulo Alexandre Schneider, em entrevista à Folha em 2018 - Diego Padgurschi - 19.jan.18/Folhapress
Alexandre Schneider e Fernanda Campagnucci

A recente iniciativa do governo federal em alterar a Lei de Acesso à Informação (LAI), que permitiria a ampliação da capacidade de ocultação de dados públicos --felizmente cancelada--, abre debate relevante sobre a importância de políticas de governo aberto no combate à corrupção, fortalecimento da democracia e maior eficiência dos governos.

Nos últimos seis anos, a LAI trouxe avanços importantes às instituições públicas. O governo federal, estados e municípios estabeleceram o diálogo com a população, que hoje pode solicitar acesso a documentos e informações e tem meios de cobrar prazo e responsáveis. Ampliaram-se a possibilidade de controle social e a qualidade do jornalismo investigativo, agora com acesso a dados antes disponíveis de acordo com o juízo do gestor público de plantão.

É necessário avançar além dos mecanismos de fiscalização do Estado, adotando o paradigma de governo aberto, em que o padrão da gestão de informações governamentais é o de abrir os dados ao público em um formato legível por computadores.

Políticas de governo aberto permitem uma mudança na forma de interação entre sociedade e Estado. Substituem a mera cobrança ou a desconfiança entre as partes por um compromisso mútuo de desenho e implementação de políticas com base em evidências.

Não por acaso, a lei sancionada em janeiro pelo governo dos EUA que torna padrão a política de governo aberto naquele país tem o nome de Fundamentos para Políticas Públicas Baseadas em Evidências. Países como França e Alemanha já adotam políticas afins.

No Brasil também há experiências exitosas, como a do "Pátio Digital", experiência de governo aberto e transformação digital reconhecida internacionalmente como boa prática de inovação pública.

Criada em 2017 pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, em menos de dois anos promoveu a abertura de dados educacionais sem precedentes, criou uma comunidade de quase mil técnicos, pesquisadores e ativistas e construiu ferramentas abertas para uso em uma rede de um milhão de alunos.

Foram resultados desse processo soluções como uma plataforma para a implementação do currículo da cidade pelos professores e uma ferramenta para divulgar os cardápios da merenda escolar e permitir seu acompanhamento e fiscalização nas redes sociais pelos estudantes e suas famílias. No modo de funcionamento "tradicional"', essas inovações demorariam muito mais ou talvez nem sequer saíssem do papel. 

Construídas com códigos abertos, seguindo tendência global nos setores público e privado, essas e outras soluções são passíveis de replicação por outros órgãos públicos, que podem melhorar as ferramentas originais e contribuir para esse ciclo virtuoso.

O paradigma de governo aberto é uma aposta promissora para resgatar a confiança na democracia. Permite aos governos reconhecer que não são capazes de resolver, sozinhos, os complexos problemas da atualidade.

Mais transparência, e não mais sigilo, é a receita para a criação de laços de confiança entre os governos e a população, políticas públicas inovadoras e governos mais eficientes.

Alexandre Schneider

Presidente do Instituto Singularidades, pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo

Fernanda Campagnucci

Diretora-executiva da Open Knowledge Brasil

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