Em retribuição ao apoio de primeira hora por parte do presidente do Chile, o direitista Sebastián Piñera, Jair Bolsonaro faz de Santiago seu primeiro destino na América do Sul, onde participa de uma cúpula regional nesta sexta (22) e se reúne com o mandatário local no dia seguinte. A praxe, até então, era visitar primeiro a Argentina.
Explica-se a deferência a Piñera por este ter sido o primeiro líder a confirmar presença na posse de Bolsonaro —o argentino Mauricio Macri não compareceu à cerimônia— e pelos elogios à plataforma liberal do então recém-vitorioso candidato pelo PSL.
A afinidade entre os dois se estende ao campo diplomático. Tanto Piñera quanto Bolsonaro buscam remodelar as instituições regionais para que espelhem a ascensão de governos à direita e a concomitante derrocada dos regimes ditos bolivarianos.
Daí a proposta, a se apresentar no encontro na capital chilena, de uma nova aliança sul-americana, de nome provisório Prosul. Esta substituiria a hoje moribunda Unasul, criada em 2008 por iniciativa de Hugo Chávez, com o aval dos aliados Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Cristina Kirchner.
É patente o intuito de isolar ainda mais a Venezuela chavista e pressionar o ditador Nicolás Maduro a negociar uma transição rumo à democracia. Para o bom funcionamento do bloco, porém, cumpre não reproduzir, com sinal invertido, o viés ideológico que norteava a Unasul e a levou à desintegração.
A visita de Bolsonaro almeja, ademais, uma maior aproximação econômica com o quase vizinho, o que inclui tirar do papel um acordo de livre comércio assinado no fim do ano passado. O liberalismo abraçado pelo Chile, por sinal, é visto pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como modelo a ser replicado.
Há quase três décadas o país andino destoa dos demais sul-americanos pela consistência da política econômica. Boa parte do círculo bolsonarista —alguns em tom que beira a veneração— credita o êxito ao choque liberal da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), uma visão no mínimo imprecisa.
O que faz o Chile se diferenciar e pode servir de exemplo ao Brasil é, sim, a estabilidade institucional cultivada após a redemocratização, que mantém pilares como responsabilidade fiscal e monetária seja qual for o governante de turno, à esquerda ou à direita.
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