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Rede macabra

Ataque na Nova Zelândia dá nova dimensão ao potencial destrutivo divulgado no Facebook

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Bandagens com sangue em rua próxima à mesquita Al Noor, na cidade de Christchurch
Bandagens com sangue em rua próxima à mesquita Al Noor, na cidade de Christchurch - Martin Hunter/Reuters
 

O inominável ataque a duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, que deixou 49 mortos e um número similar de feridos, apresentou como horror adicional a transmissão ao vivo, para todo o planeta, pelo Facebook.

Durante 17 minutos, a partir das 21h40 (13h40 no horário local) de quinta-feira (14), usuários da rede social puderam assistir ao massacre perpetrado por um atirador australiano. Mas não só eles.

Em ação que parece ter sido meticulosamente planejada, Brenton Tarrant, 28, registrou a chacina por meio de uma câmera instalada no capacete que usava enquanto atirava a esmo contra os frequentadores dos locais de culto.

As imagens passaram a ser rapidamente reproduzidas por outras redes e sites da internet, multiplicando seu alcance —viralizando, como se diz no jargão da rede, a despeito de esforços de grandes plataformas para tirá-las do ar.

Tarrant também publicou em meio digital um manifesto de mais de 70 páginas em que se define, de modo não surpreendente, com etnonacionalista e fascista. “Um homem branco comum, de uma família comum”, mas alarmado com o aumento da parcela de imigrantes na população, em detrimento dos descendentes de europeus.

O Brasil, ainda sob o choque do morticínio em uma escola pública de Suzano (SP), é citado no documento como uma nação fraturada em razão da diversidade racial.

Esse tipo de ofensiva demencial, como se sabe, alimenta-se da imitação. O homicida australiano se revelou inspirado pelo uzbeque que matou cinco em Estocolmo, na Suécia, dois anos atrás. É apavorante imaginar que ele possa servir como mais um exemplo bem-sucedido de notoriedade macabra.

Ganham nova dimensão, assim, as já severas preocupações com o potencial destrutivo da divulgação desregulada de conteúdos por meio do Facebook e outras redes —gigantes de tecnologia que, cumpre repetir, tornaram-se também gigantes de mídia, sem contudo assumir as responsabilidades inerentes à segunda condição.

Sob pressão crescente, prometem controles mais eficazes sobre o que propagam. A tragédia neozelandesa mostrou como suas providências têm sido insuficientes.

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