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Sedução estatal

Bolsonaro esqueceu sua promessa de campanha de privatizar a Empresa Brasil de Comunicação

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O ministro da Secretaria-Geral, general Carlos Santos Cruz - Pedro Ladeira/Folhapress

Um dos compromissos de campanha mais rapidamente esquecidos pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi o de privatizar —ou simplesmente fechar— a Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Reafirmou-se a promessa em entrevistas concedidas a emissoras de televisão em 29 de outubro, logo após o segundo turno da eleição. Não faz sentido, postulava o vitorioso, gastar R$ 1 bilhão anual com uma emissora de televisão que dá traço de audiência.

Havia alguma imprecisão na fala: as despesas autorizadas da EBC neste ano somam cerca de R$ 640 milhões, destinados a serviços de TV, rádio e agência de notícias. Na essência, entretanto, o raciocínio de Bolsonaro estava correto.

Uma vez empossado, o presidente parece ter se deixado seduzir, como seus antecessores, pela conveniência de um veículo de jornalismo amigável —ainda que acompanhado por quase ninguém.

A estatal permanece instalada na estrutura administrativa do Palácio do Planalto. No mês de fevereiro, seu comando foi trocado. Em reportagem publicada no sábado (2), o general Carlos Santos Cruz, ministro da Secretaria-Geral, expôs planos para cortar gastos de R$ 130 milhões com a empresa.

Programas de ajuste são fabulações que raramente sobrevivem à burocracia brasiliense. Mais palpável, dados os sinais disponíveis, é que a EBC seguirá consumindo uma considerável parcela do dinheiro do contribuinte, a despeito de sua desmoralização.

Em seu formato atual, a empresa é uma versão expandida e maquiada da velha Radiobrás. Instituída em 2007, traz em sua sigla o alegado propósito de reproduzir os padrões de qualidade e independência da britânica BBC. Logo se mostrou, porém, mais um aparelho de propaganda e cabide de empregos da administração petista.

Mesmo com o estigma partidário, sobreviveu ao governo Michel Temer (MDB), quando uma troca de comando chegou a ser contestada na Justiça. Em julho do ano passado, tornou-se notícia nesta Folha porque, em uma única semana, seus cerca de 2.000 funcionários haviam apresentado nada menos que 310 atestados médicos.

Talvez a empresa não seja mesmo privatizável, uma vez que, à diferença da Petrobras ou do Banco do Brasil, não gera receitas suficientes para manter sua operação. Cumpre, pois, buscar a saída menos onerosa para o poder público e mais vantajosa para a sociedade.

A melhor alternativa, tudo indica, deve ser o fechamento —salvo na hipótese muito improvável de que se consiga assegurar a prestação de serviços informativos de qualidade, a um custo razoável.

editoriais@grupofolha.com.br ​ ​ ​

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