Descrição de chapéu

Sombra no ministério

Titular do Turismo continua a dever explicações sobre candidaturas de fachada do PSL; suspeitas se reforçam com entrevista de candidata a este jornal

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Se o titular da pasta do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, aposta que serão esquecidas as evidências de seu envolvimento com candidaturas de fachada em Minas Gerais, a estratégia se mostra inglória. Desde o início de fevereiro, quando esta Folha revelou o caso, a situação do ministro só faz piorar.

Nos próximos dias, a Polícia Federal deverá ouvir Zuleide Oliveira, candidata do PSL que o acusa de tê-la convidado para participar, nas últimas eleições, de esquema de desvio de dinheiro público reservado ao partido —o mesmo do presidente Jair Bolsonaro.

Nesta quinta (7), Adriana Borges, que disputou uma cadeira na Câmara, disse ao Ministério Público Eleitoral que um assessor do ministro lhe propôs a devolução de R$ 90 mil em verba de campanha.

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, investigado no caso dos "laranjas do PSL", durante entrevista ao SBT
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, investigado no caso dos "laranjas do PSL", durante entrevista ao SBT - Reprodução

Até então, sabia-se que Álvaro Antônio, presidente do PSL mineiro e deputado federal mais votado em seu estado, havia obtido da cúpula nacional da sigla um repasse de R$ 279 mil para quatro candidatas sem nenhuma expressão perante o eleitorado. Juntas, elas amealharam pouco mais de 2.000 votos.

A discrepância entre as cifras, por si só, já dá margem a suspeitas de atividade fraudulenta. Elas se fortalecem com a comprovação de que ao menos R$ 85 mil do total de recursos foram encaminhados oficialmente para a conta de quatro empresas ligadas a assessores ou parentes do atual ministro. 

Após tentativas do governo de tratar o episódio com evasivas, nova reportagem mostrou que o PSL também forjou uma candidatura feminina em Pernambuco, base do atual presidente do partido, Luciano Bivar. A laranja, desta feita, foi contemplada com R$ 400 mil em recursos orçamentários. 

Na época, a sigla era comandada por Gustavo Bebianno, que no governo chegou à Secretaria-Geral da Presidência. Os fatos expostos aprofundaram a crise latente no Planalto e levaram a uma conturbada exoneração do ministro. 

Zuleide Oliveira, inscrita para a disputa a deputada estadual, já havia apresentado uma denúncia ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas, mas sem consequência.

Em entrevista a este jornal, declarou ter participado de um encontro com Álvaro Antônio no escritório dele, em Belo Horizonte, no dia 11 de setembro, acompanhada pelo marido e por um amigo. “A minha candidatura foi usada para fazer parte de uma lavagem de dinheiro do partido”, afirmou.

Caberá aos órgãos competentes apurar o ocorrido. São contundentes os indícios de que a obrigatoriedade legal de candidaturas femininas foi objeto de burla nas eleições —e não apenas, convém ressaltar, por parte do PSL. 

A defesa do titular do Turismo recorreu nesta quarta (6) de decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), favorável a manter o caso na primeira instância da Justiça. Horas depois, noticiou-se a desistência do recurso.

O estratagema de Álvaro Antônio para pleitear foro especial era insustentável. Mais servia, na realidade, para reforçar as suspeitas que pesam sobre seus ombros. Enquanto isso, sua inexplicável permanência no cargo contamina um governo que se elegeu com a promessa de sanear a prática política.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.