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Guilherme Stoliar

Uma reflexão sobre a internet e a TV aberta

Com perda de receita, emissoras enfrentam desafios

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Guilherme Stoliar, presidente do Grupo Silvio Santos, em seu escritório
Guilherme Stoliar, presidente do Grupo Silvio Santos, em seu escritório - Lourival Ribeiro/SBT
 
Guilherme Stoliar

Muito se pergunta a respeito do que acontecerá com a televisão aberta depois da internet banda larga. Tento responder com fatos nesta simples reflexão sobre os próximos cinco anos. 

Dados.

1) Antes da internet banda larga, 100% da população tinha a televisão aberta como seu grande companheiro de informação e entretenimento.

2) No Brasil, mais de 70% das famílias vivem com uma renda familiar inferior a R$ 3.000 por mês. Poder de compra muito restrito.

3) As demais 30% até podem ter banda larga, Netflix, cabo e outras formas de se informar e se entreter.
O que constatamos: todos continuam assistindo à TV aberta.

Podemos dividir a televisão aberta em dois modelos, por suas características culturais e econômicas. O modelo Cirque du Soleil, que é a Globo, e o Circo Garcia, que são o SBT, a Record, a Band e a RedeTV!. Não considerei as demais emissoras porque as audiências são pequenas.

Esses modelos são a caricatura de como são produzidos e exibidos os conteúdos desses canais. E penso que ninguém tem dúvidas a respeito!

Até 2014, a televisão aberta reinava economicamente na mídia. Entretanto, de 2015 até 2018, a queda das suas receitas superou 30%. Uma parte foi perdida para a crise e outra, para os meios digitais, internet.

A Globo, o “Cirque du Soleil”, detinha e ainda detém, por pouco tempo, mais de 70% da receita do bolo publicitário das abertas, o que gerava até 2014, lucros auspiciosos. As outras emissoras, o “Circo Garcia”, arrecadavam o restante, vivendo com grandes dificuldades e sendo obrigadas a locar espaços para igrejas e outros arrendatários para fechar as contas.

Hoje, todas as emissoras abertas perderam 30% da receita e não conseguiram reduzir custos e despesas nessa proporção. Missão muito difícil para qualquer um.

Como reduzir o custo dos direitos do futebol brasileiro? Missão impossível! Como reduzir o custo e manter a qualidade das novelas? Outro problema! Resultado: muito prejuízo, inclusive e principalmente no “Cirque du Soleil”. Quem diria? Falo da TV Globo, não do Grupo Globo.

O que vejo pela frente.

1) O mercado da TV aberta ainda não estabilizou. Começamos o ano e a receita ainda está menor do que em 2018, especialmente pela falta das verbas de governo. Ainda não chegamos ao fundo desse poço.

2) O público da TV aberta ficará restrito às pessoas com renda familiar de até R$ 3.000. Esse grupo é representado por 70% da população, mas seu poder aquisitivo é pequeno.

3) A TV aberta tem 80% de sua receita advinda de aproximadamente cem grandes clientes. Estes, a partir de 2015, dadas a crise e as novas possibilidades da internet, reduziram suas verbas na aberta. Só lembrando: faturamos hoje 70% do que faturávamos em 2014.

4) Um fato importante e ilustrativo. Para você fazer um anúncio numa novela da Globo, o “Cirque du Soleil”, em rede nacional, um anunciante gastará R$ 800 mil e terá uma audiência de 30 pontos. Se fizer um anúncio nas novelas do SBT, Record, Band, o “Circo Garcia”, para atingir os mesmos 30 pontos, esse anunciante gastará R$ 250 mil. Pois é.

5) Em pouco tempo, esses cem anunciantes vão abrir os olhos, acabar com preconceitos e, para não ficarem de fora da televisão aberta, que ainda terá os 70% do público brasileiro, anunciarão cada vez mais no “Circo Garcia” e menos no “Cirque du Soleil”.

6) Uma coisa é certa, o dono do “Cirque du Soleil” não sabe fazer um “Circo Garcia”, e o contrário também é verdadeiro. É muito difícil a Globo reduzir seus custos na razão da atual conjuntura. A Globo não tem cultura e preparo para ser o Garcia e, se conseguir ser, terá sua receita dividida com as outras. E as demais emissoras, por força das necessidades, já estão ajustadas.

7) Se os donos do “Circo Garcia” conseguirem sobreviver por mais algum tempo, vão poder assistir a esse filme em no máximo cinco anos.

Nenhuma crítica ao Circo Garcia, que admiro muito. A televisão aberta é um veículo popular, como o são os 70% das famílias brasileiras.

Ver para crer!

Guilherme Stoliar

Sócio-diretor da Speed Cast e da TV Alphaville

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