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Acolhida difícil

Programa para atender venezuelanos está na direção certa, mas precisa de ajustes

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Atendimento em Pacaraima, Roraima, como parte da Operação Acolhida, em agosto do ano passado
Atendimento em Pacaraima, Roraima, como parte da Operação Acolhida, em agosto do ano passado - Avener Prado - 17.ago.18/Folhapress

Um ano após o embarque dos primeiros imigrantes venezuelanos de Roraima para outras regiões do Brasil, o programa de interiorização do governo federal vai na direção correta, mas problemas de adaptação e uma grande demanda ainda não atendida indicam a necessidade de ajustes.

A assim batizada Operação Acolhida tem como objetivo atender aos milhares que fogem do catastrófico regime do ditador Nicolás Maduro e, ao mesmo tempo, diminuir a pressão sobre a saturada Boa Vista e seus arredores.

Nesse intervalo de 12 meses, mais de 5.000 venezuelanos foram levados para dezenas de cidades do país, com destaque para o Sul e Sudeste, regiões com mais capacidade de absorção do que Roraima —o estado menos populoso, com menos de 600 mil habitantes.

Por causa da distância e do alto custo, esses imigrantes teriam muitas dificuldades para chegar a esses destinos por conta própria.

Uma das fragilidades está na pouca estrutura de apoio à integração, conforme reportou esta Folha. Assim como os brasileiros, eles padecem com o desemprego elevado, mas a condição de estrangeiros recém-chegados os deixa mais vulneráveis. Muitos voltaram a viver nas ruas ou se sujeitaram a situações degradantes de trabalho.

A região Norte também demanda maior atenção. O fluxo de interiorização não tem sido suficiente para desafogar os abrigos de Roraima. Há cerca de 6.000 venezuelanos nas instalações da Acolhida nos estados e outros 1.600 sem teto definido só na capital.

Em Manaus, outro ponto de chegada da imigração espontânea, a ausência de um braço da operação tem sobrecarregado a Cáritas, entidade ligada à Igreja Católica.

Preocupa também a situação dos indígenas do país vizinho, principalmente os da etnia warao. Centenas deles se espalharam pelas principais cidades amazônicas, onde vivem em condições precárias. Em Belém, já houve o registro de seis crianças mortas.

No conjunto, são mazelas que podem ser enfrentadas dentro do arcabouço da Acolhida. Ressalte-se que, a despeito da retórica anti-imigratória e antiglobalização do bolsonarismo, a iniciativa passou incólume pela mudança de governo, mantendo a colaboração com agências das Nações Unidas.

Por outro lado, o aprimoramento não deixa de ser tarefa urgente. Mesmo com a fronteira entre Brasil e Venezuela fechada desde fevereiro, os imigrantes continuam a chegar em grandes números. Trata-se de uma crise humanitária crescente, que não pode ser ignorada.

editoriais@grupofolha.com.br

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