O suicídio do ex-presidente do Peru Alan García inscreve um capítulo trágico nas investigações de denúncias de corrupção que correm naquele país. Na quarta-feira (17), logo após ser informado de que a Justiça havia decretado sua prisão preliminar por dez dias, o político se trancou em um quarto e atirou contra a própria cabeça.
García, que comandou o Peru em duas oportunidades (1985-1990 e 2006-2011), era acusado de envolvimento em escândalo envolvendo a empreiteira Odebrecht.
Esta declarou ter despejado US$ 29 milhões em propinas e caixa dois no país —uma das 12 nações (10 na América Latina) que integraram a assombrosa rede de corrupção tecida pela empresa e sua subsidiária, a petroquímica Braskem.
As revelações da construtora, com efeito, tiveram impacto no mundo político peruano tão devastador quanto no caso brasileiro.
Lá também são investigados os ex-presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), que fugiu para os EUA e enfrenta pedido de extradição, Ollanta Humala (2011-2016), preso por nove meses e hoje respondendo a processo em liberdade, e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), que renunciou em março do ano passado após denúncias de corrupção.
No caso de Alan García, duas acusações o implicavam. Na primeira, a Odebrecht teria feito aportes ilegais no valor de US$ 200 mil à campanha que lhe deu a vitória em 2006. A outra envolve a licitação de obras do metrô de Lima, episódio no qual teria sido beneficiado um consórcio do qual a empreiteira fazia parte.
O chocante ato final do ex-presidente, como seria de esperar, despertou o debate sobre excessos das autoridades peruanas. Partidários de García acusam o Ministério Público de utilizar a prisão preventiva como meio de intimidação.
Discussão semelhante ocorre no Brasil desde o advento da Lava Jato. Por aqui, integrantes da operação não raro mostram propensões a abusos, ações espetaculosas e discursos messiânicos.
Não resta dúvida dos méritos da iniciativa, que proporcionou desejável mudança na maneira como se tratam crimes de colarinho branco. O questionamento de métodos, pois, não deve ser confundido com tolerância à corrupção.
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