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Gustavo Lycurgo Leite

Faça como Mick Jagger: não abra o seu coração

ANS deveria adotar cirurgia menos invasiva

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Equipe do Hospital Albert Einstein realiza cirurgia cardíaca com ajuda de robô - Caio Guatelli - 12.mar.10/Folhapress
Gustavo Lycurgo Leite

Após 17 anos de muita pesquisa, o cirurgião francês Alain Cribier realizou em abril de 2002 a primeira troca da válvula aórtica por cateter, sem a necessidade da temida toracotomia, como é chamada a secção da caixa torácica. A técnica revolucionária de Cribier foi chamada de Tavi, sigla em inglês para implantação de válvula aórtica por cateter.
 
Mais de 500 mil pessoas já foram operadas com essa técnica. Entre elas, Mick Jagger. O líder da banda Rolling Stones foi submetido a uma Tavi há poucos dias

No início, a Tavi era recomendada em casos em que cirurgia cardíaca aberta apresentava grandes riscos, como para os mais idosos. O incrível histórico de sucesso do tratamento e as recentes publicações mostram, no entanto, sua superioridade sobre o procedimento tradicional. É sinal de que, em breve, a Tavi passará a ser a primeira opção de tratamento.

As vantagens da Tavi são enormes. Ela reduz o tempo de recuperação, a necessidade de reinternação, o risco de derrame cerebral e de morte. Além disso, mostra-se uma terapia economicamente mais vantajosa do que a cirurgia de peito aberto.

Por isso, foi adotada no Canada, no Reino Unido, em Portugal, na Franca, na Itália, na Alemanha, na Suíça, na Espanha, na Dinamarca, na Noruega, na Suécia, no Japão e nos Estados Unidos, onde foi aprovada há uma década pela FDA (Food and Drug Admnistration), a agência de saúde norte-americana.
 
O Brasil está atrasado. Desde 2008, quando a Tavi foi inicialmente registrada na Anvisa, segue um verdadeiro calvário para a inclusão da técnica no rol de procedimentos da ANS (Agencia Nacional de Saúde Complementar).

Já foram cinco submissões a ANS para a inclusão no rol de procedimentos, sem sucesso. Em 2013, o Ministério Público Federal moveu e venceu uma ação para obrigar a ANS a incluir a Tavi. Lamentavelmente, a decisão foi revertida.

Agora, parlamentares tentam aprovar uma lei incluindo a técnica no rol da ANS. Nessa luta, estão amparados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e pela Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista.

Enquanto eles batalham, pacientes buscam o tratamento por meio de processos judiciais, o que, lamentavelmente, virou praxe no Brasil.

É uma alternativa ruim por três motivos: o ambiente certo para resolver questões médicas é o consultório e não o tribunal; os pacientes que precisam da Tavi são frágeis e não podem esperar pela tramitação de um processo judicial; o custo total do procedimento aumenta porque há gastos advocatícios incorridos pelos pacientes e pelas empresas do setor de saúde.

A inclusão da Tavi no rol de procedimentos da ANS interessa a todos. O sistema de saúde, seja público ou privado, arcará com menos custos, porque contará com recuperações mais breves e menores taxas de reinternações --logo, menos gastos hospitalares. Os pacientes terão mais segurança e conforto e se recuperarão mais rapidamente.

Subtrair da população a possibilidade de ter acesso a um método menos doloroso e arriscado poderia ser considerado, como diria Mick Jagger, uma certa "simpathy for the devil".

Gustavo Lycurgo Leite

Cardiologista e titular da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista

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