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Mais desistências

Percentual de abandono no Mais Médicos atingiu 15% em apenas um trimestre

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Unidade de saúde em Embu-Guaçu (SP), onde médicos cubanos atendiam regularmente - UOL/Folhapress
 

Por mais que postagens do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nas redes sociais sugiram o contrário, inexistem soluções simples para problemas complexos e antigos.

Tome-se o caso do Mais Médicos. Após a saída atabalhoada da ditadura cubana do programa, ainda antes de sua posse, o mandatário apressou-se a comemorar o rápido preenchimento das vagas por brasileiros —como se fosse o bastante para remediar a situação.

Três meses após assumir o cargo, Bolsonaro tem agora de se haver com a realidade. Conforme noticiou esta Folha, dos 7.120 profissionais que assumiram postos no Mais Médicos entre dezembro de 2018 e janeiro deste ano, 1.052 (15% do total) já desistiram.

Defecções eram previsíveis, visto que a aderência dos brasileiros sempre constituiu dificuldade. Preocupa, ademais, que um percentual tão expressivo tenha sido atingido em apenas um trimestre. Entre 2013 e 2017, a taxa de abandono em até um ano ficou em 20%.

Não há data prevista para o preenchimento dessas vagas, condenando comunidades que dependem exclusivamente do programa a improvisarem atendimento médico a seus moradores. Em Manaquiri (AM), por exemplo, um posto de saúde que atende 800 famílias ficou sem médico.

Os municípios periféricos e de perfil socioeconômico mais desfavorável compõem, como infelizmente seria de esperar, o rol dos mais atingidos. A maior taxa de desistências, 31%, ocorreu em locais cuja população extremamente pobre perfaz 20% ou mais do total.

O problema, todavia, também é significativo em capitais e regiões metropolitanas, nas quais se contou um quinto das defecções. Nesses centros urbanos, as vagas do Mais Médicos estão, em geral, nas áreas mais distantes e violentas.

Alterar esse padrão, que prejudica sobretudo estratos já vulneráveis, passa pelo oferecimento de melhores condições de trabalho em hospitais e postos de saúde —embora mesmo isso não garanta solução definitiva. Outras opções incluem a criação de uma carreira federal no SUS e a ampliação da telemedicina.

Inútil, como vai ficando claro, é tratar o programa como mais um cavalo da batalha política.

editoriais@grupofolha.com.br ​

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