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Quatro anos de Fifagate

Brasil continua protegendo os seus dirigentes corruptos

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O senador Romário (Podemos-RJ) discursa no Senado em Brasília - Renato Costa - 31.ago.16/Folhapress
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Quatro anos é um período simbólico para o futebol mundial. Afinal, é com essa frequência que acontece a sua principal competição, a Copa do Mundo, evento que mobiliza todo o planeta e desperta paixão e interesse em todos nós, amantes do esporte.

Na semana em que se completa quatro anos da revelação do maior escândalo do futebol internacional, temos de encarar uma vergonhosa derrota, agora fora dos campos: nenhum dos nossos dirigentes denunciados e condenados pela Justiça dos Estados Unidos e Fifa foi, sequer, incomodado pelas autoridades judiciais brasileiras.

José Maria Marin, atualmente cumprindo pena nos EUA, é o único que paga, hoje, por seus malfeitos contra o jogo limpo. Teve o azar de ser denunciado e capturado na primeira leva de prisões solicitadas à Interpol e ao governo suíço, durante o Congresso da Fifa em Zurique. Havia acabado de sair do comando formal da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Levaria pouco tempo para os norte-americanos perceberem se tratar de uma quadrilha, onde Marin era apenas uma marionete de Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira, os verdadeiros chefões do esquema criminoso que assaltava —e continua assaltando— o nosso futebol. 

Investigados e denunciados nos EUA, onde certamente seriam condenados até de maneira mais dura que Marin, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero gozam no Brasil da boa vida material que os seus crimes proporcionaram. Entre barcos luxuosos, mansões nababescas e caros restaurantes, continuam inclusive participando e influenciando nos bastidores da CBF, como na eleição do pupilo Rogério Caboclo, ex-diretor-executivo da entidade e chefe do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014, para a sua presidência.

A despeito, portanto, de serem comprovadamente corruptos, com crimes demonstrados tanto pela Justiça dos EUA como pela CPI do Futebol do Senado, os dois chefes da quadrilha ainda continuam soltos, protegidos pelas fronteiras de nosso território e pela aparente generosidade de nossas autoridades criminais. Marco Polo Del Nero, até o momento, sequer foi denunciado. Teixeira o foi, em 2015, em processo paralisado e apenas sobre a organização do amistoso Brasil x Portugal realizado em 2007.

No relatório paralelo que produzimos em decorrência das investigações feitas pela CPI, conseguimos demonstrar todo o “modus operandi” reinante na entidade dirigente do futebol brasileiro. Está tudo lá, lastreado com depoimentos e documentos probatórios: compra de apoio político por meio de “mesada” para presidentes de federações estaduais, doações ilegais de campanha, esquema de propinas em contratos de patrocínio e passagens aéreas e desvios diretos de recursos do sistema de nosso futebol. 

Como senador da República, presidente da CPI que investigou a CBF e ex-jogador que tanto honrou a camisa do Brasil, fico triplamente envergonhado e revoltado com essa situação. O futebol é mais que um símbolo nacional. Ele integra o nosso patrimônio público. A tragédia que ora se abate sobre o nosso esporte número um, sobretudo em sua gestão, é fruto de décadas de desvios de recursos para o bolso de seus dirigentes, dinheiro que deveria se destinar ao seu fomento e desenvolvimento.

Já passou da hora de passarmos o nosso futebol a limpo. A impunidade de dirigentes corruptos como Del Nero e Teixeira nos envergonha diante da comunidade internacional. Todo o capital de imagem que construímos com a Operação Lava Jato, no combate à corrupção, se desvanece quando entramos na seara dos crimes ligados ao futebol.

O Fifagate foi o estalo inicial que precisávamos. O mundo inteiro finalmente tomou conhecimento da podridão que envolve os bastidores e os negócios do esporte mais popular do planeta. Mas ainda não fizemos a nossa parte, enquanto país do futebol e pentacampeões mundiais.

Já fomos os melhores em campo. Já tivemos os maiores craques. Encantamos o mundo com um jeito único e envolvente de jogar. Mas também tivemos os piores dirigentes. É hora de mudar esse jogo.

Romário

Senador da República (Podemos-RJ) desde 2015 e campeão do mundo de futebol em 1994

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