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Um ano de Covas: nada a festejar

Segue o padrão de paralisia nas regiões periféricas

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O vereador Antonio Donato (PT) na Câmara Municipal de São Paulo - Eduardo Anizelli - 08.jan.18/Folhapress

Ao se completar um ano da gestão de Bruno Covas na Prefeitura de São Paulo, somada a um ano e três meses da de seu antecessor, João Doria, o que mudou, de verdade, na capital? O que foi além da espuma marqueteira do ex-prefeito Doria?

Covas parece seguir com coerência a missão do atual governador. As prioridades são as mesmas, com igual inoperância administrativa. A ausência ainda mais acentuada no dia a dia da cidade também parece comum aos dois, como demonstra o episódio do “descanso” em Berlim em meio às águas de março.

A capital tem hoje mais de 1 milhão de desempregados do total de 1,7 milhão da região metropolitana e dos 2,8 milhões do Estado. Aqui é onde mais cresce o trabalho sem vínculo em carteira, o emprego temporário e os “bicos” como forma de garantir o rendimento das famílias.

Renda menor do trabalho, insegurança quanto ao emprego e insuficiência do mínimo para uma vida digna exigem políticas na contramão da que Covas, Doria e, agora, Bolsonaro vêm realizando.

O prefeito não pode se omitir diante de uma calamidade dessa natureza. Mas ele vai além da omissão. Suas medidas recentes refletem escolhas claras de quem e quais bairros devem sofrer a carga maior da estagnação do país.

Se Doria já havia paralisado obras dos CEUs e de novos hospitais municipais, cortado o Leve Leite e degradado a merenda escolar, o novo prefeito acentuou as escolhas com a redução dos benefícios do Bilhete Único e com o confisco dos salários dos servidores, através da reforma da Previdência municipal.

Além disso, Covas mandou revisar convênios das áreas de assistência social e saúde como forma de “racionalizar” despesas —o que deve ser definido como corte. Serviços sociais necessários para amenizar os problemas da estagnação econômica nas camadas de renda mais baixa e na população das periferias serão reduzidos.

A paralisia de ações nas regiões periféricas segue o padrão desta gestão, justamente onde as condições urbanas exigem maiores investimentos em infraestrutura de transporte, drenagem e maior e melhor oferta de serviços públicos e sociais. E não é por falta de recursos. A prefeitura acumula um caixa de mais de R$ 10 bilhões, o que reflete a falta de foco e de capacidade de investir.

Como a população já percebeu, Covas discretamente deixou de lado os programas marqueteiros de Doria sem colocar no lugar nada que funcione.

Cabe lembrar o caso do Anhembi, cuja privatização aportaria mais de R$ 2 bilhões aos cofres da prefeitura, segundo Doria, mas cuja avaliação por Covas reduziu a R$ 1 bilhão. Sabe-se agora de um aumento de capital da SPTuris, empresa responsável pelo complexo, em R$ 100 milhões. Medida grotesca, implementada após o lançamento do edital de licitação. Em outras palavras, o hipotético investidor ganha de saída um desconto de 10% sobre o preço-base!

A sensação que deixam os tucanos na gestão da cidade é a de que o governo eleito em 2016 não começou para São Paulo. Apenas tratou de alargar a distância e a desigualdade social entre famílias e regiões da cidade, um programa político que certamente revoltaria o avô do atual prefeito e um dos fundadores do PSDB.

Antonio Donato

Vereador pelo PT na Câmara Municipal de São Paulo e ex-secretário municipal de Governo (2013, gestão Haddad)

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