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Gabinete devassado

Quebra do sigilo bancário cria novo foco de tensão em torno do filho de Jair Bolsonaro

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Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro, durante a transição do governo em novembro de 2018
Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro, durante a transição do governo em novembro de 2018 - Adriano Machado - 27.nov.2018/Reuters
 

Flávio Bolsonaro não tem tido sossego no começo de seu primeiro mandato como senador. O primogênito do presidente Jair Bolsonaro (PSL) vem sendo assombrado por indícios de irregularidades financeiras cometidas em sua carreira como deputado estadual fluminense, que teve início em 2003.

No final do ano passado, quando se preparava para ingressar na nova etapa de sua vida pública, o parlamentar viu as investigações da Lava Jato se aproximarem perigosamente de seu antigo gabinete.
Ao averiguar a atuação de membros da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), a operação detectou movimentações bancárias atípicas de diversos funcionários da Casa.

Entre eles figurava o policial militar Fabrício Queiroz, assessor e motorista de Flávio, que movimentara, de modo nebuloso, cerca de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e de 2017 —valor considerado incompatível com seu patrimônio.

Os investigadores notaram que Queiroz efetuava saques em série e recebia repasses de funcionários, além de ter destinado um cheque de R$ 24 mil à mulher de Jair Bolsonaro, Michelle. 

Diante dos fatos, o Ministério Público solicitou ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) novo relatório, agora sobre as contas de Flávio. Soube-se então que, entre outras movimentações, ele havia realizado 48 depósitos de R$ 2.000 cada, em junho e julho de 2017, num posto de autoatendimento bancário da Alerj. 

Queiroz, que já manteve relações de amizade com o hoje presidente da República, refugiou-se por um período na comunidade de Rio das Pedras, berço das milícias cariocas.

Tanto suas primeiras explicações quanto as de Flávio —que tentou, em vão, por duas vezes suspender as investigações na Justiça— mostraram-se frágeis e fantasiosas.

Agora, autorizada a quebra do sigilo bancário do senador e de seu assessor, as versões poderão ser cotejadas com a realidade dos registros. Além da dupla, a devassa atinge nove empresas e 86 pessoas, entre as quais 5 ex-assessores do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro. 

É óbvio que ninguém deve ser condenado por antecipação, mas há fortes suspeitas de que se consumava no gabinete de Flávio a prática de contratar assessores com o intuito de recolher parte de seus vencimentos —fraude apelidada no meio político de “rachadinha”.

Muito pior será se a quebra dos sigilos desnudar outras conexões. As especulações mais preocupantes referem-se ao envolvimento de representantes das milícias.

Colhido pela decisão judicial num momento em que o governo enfrenta uma miríade de dificuldades, Bolsonaro repete o bordão de seu filho acerca de um complô que teria por objetivo enfraquecê-lo.

O que se constata, porém, é que nem a oposição tem contribuído tanto para o fracasso das iniciativas governamentais quanto o próprio círculo de amigos, apoiadores e parentes presidenciais.

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