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Rodrigo Abreu

O cadastro positivo vai reduzir o custo do crédito? SIM

Transformação positiva

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O presidente da Quod, Rodrigo Abreu
O presidente da Quod, Rodrigo Abreu - Divulgação
 
Rodrigo Abreu

O ambiente de crédito de um país (incluindo custo, tamanho, variedade de empresas concedentes e condições de acesso) é um motor da economia, que permite investimentos e projetos de longo prazo, incentiva o empreendedorismo e contribui com o desenvolvimento econômico.

Confiança tem sido um fator crítico desde os primórdios do crédito —do latim “credere” (acreditar). Os juros surgiram como uma forma de compensar os credores pelos riscos assumidos, não como punição aos tomadores de crédito. Logo, um dos principais fatores para definir o custo do crédito está ligado a uma medição adequada dos riscos associados.

A evolução dos sistemas de crédito fez surgir mecanismos para compartilhar informações sobre seus tomadores e, assim, medir os riscos. No Brasil, as informações para análise de crédito foram centradas quase que exclusivamente em dados de inadimplência. Tal análise, porém, é imprecisa e muitas vezes injusta, pois a ausência de informações acuradas impacta o custo médio do crédito —nivelado pela premissa de riscos e custos altos. Muitos países já superaram esse modelo e utilizam hoje informações completas de histórico de pagamentos, o chamado cadastro positivo.

O cadastro positivo foi regulado em 2013, mas sua implementação foi restrita aos consumidores que, conhecendo seus benefícios, aderiram voluntariamente. Passados seis anos, menos de 10% da população economicamente ativa participa do cadastro, limitando sua aplicação e seus benefícios. Com a aprovação da nova lei, temos uma excepcional oportunidade de mudar esse quadro.

A inclusão automática (respeitado o direito do consumidor à exclusão) somada à disponibilidade de dados de pagamento de serviços continuados possibilitará uma análise mais justa e completa do risco de crédito. Estima-se que entre 20 e 30 milhões de pessoas tenham acesso muito limitado a crédito no Brasil, seja por estarem negativados, pela entrada recente no mercado de trabalho ou por não comprovarem renda.

O acesso ao histórico de pagamentos permitirá a análise de consumidores não bancarizados e, como resultado, mais pessoas poderão ter acesso a crédito. 

Haverá também melhora na precificação do risco e inclusão de consumidores antes excluídos em função dos altos custos, diferenciando, por exemplo, pequenos atrasos de dívidas do que de fato constitui inadimplência grave. Essa análise possibilitará ainda a redução de assimetria de informações entre instituições financeiras e empresas que venham a conceder crédito ou tomar riscos comerciais, proporcionando ambiente mais competitivo e levando à diminuição de riscos e taxas de mercado associadas.

A possibilidade de os consumidores acompanharem suas informações de forma transparente também traz um benefício adicional relevante no que diz respeito à mudança de comportamento da população em relação ao crédito, com mais consciência e educação financeira, contribuindo diretamente para a queda da inadimplência e do superendividamento.

Enfim, o novo cadastro positivo vai aprimorar o ambiente de crédito e beneficiará empresas e consumidores, melhorando o relacionamento entre ambos e impulsionando o crescimento. 
Certamente não existe uma única “bala de prata” para a redução do custo do crédito, mas o cadastro positivo, tal como será implementado a partir de julho, é, indiscutivelmente um elemento fundamental dessa equação.

Rodrigo Abreu

Engenheiro elétrico, é presidente da Quod, fintech gestora de bases de dados criada pelos cinco maiores bancos do país

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