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Águas turvas

Planos para despoluir os rios Tietê e Pinheiros devem ser tratados com ceticismo

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Rio Pinheiros, na região do Itaim Bibi, zona oeste paulistana
Rio Pinheiros, na região do Itaim Bibi, zona oeste paulistana - Eduardo Knapp - 4.fev.19/Folhapress

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou que pretende despoluir o rio Pinheiros até 2022 —ano de eleição estadual e presidencial, duas possibilidades para o mandatário paulista.

Doria também prometeu limpar o Tietê em oito anos, restituindo assim à capital seus dois rios históricos, hoje transformados em verdadeiros esgotos a céu aberto.

Ambos passaram por uma série de intervenções, ao longo do século passado, que levaram à mudança de seus trajetos e ao adensamento populacional em suas margens.

O crescimento rápido da metrópole, sem a necessária implantação de infraestrutura, resultou em descarte de poluentes domésticos, industriais e urbanos nos dois cursos d’água, que se interligam. 

A recuperação não é tarefa fácil. Envolve investimentos de monta para tratamento de esgotos e medidas que abarcam um conjunto de municípios, nem sempre conectados pelas mesmas prioridades.

O governador acena com a perspectiva de atrair dinheiro da iniciativa privada para o projeto, que propiciaria a possibilidade de exploração turística, com a implantação de áreas de lazer, bares e restaurantes, além de passeios de barco.

Sonhar não custa nada, diz a conhecida máxima. Mais difícil é deixar o plano das promessas e enfrentar os obstáculos reais.

Há décadas, sucessivas administrações municipais e estaduais têm renovado compromissos de revitalizar os dois rios, mas muito pouco de concreto se fez.

Em 2001, por exemplo, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou o que seria um processo revolucionário para limpar o Pinheiros —o método da “flotação”, que consistia em aglomerar a sujeira em flocos na superfície para posterior remoção. Após dez anos de investimentos públicos, a ideia foi abandonada.

Oito anos antes, em 1993, Fleury Filho (PMDB) captou recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do BNDES para a despoluição do Tietê.

O ex-mandatário prometeu, na época, que em 2005 o processo estaria concluído —e anunciou que estaria pronto a beber água do rio naquele ano. Desde então gastaram-se cerca de US$ 2,7 bilhões (quase R$ 10,5 bilhões, pela cotação atual) com o projeto, que está muito longe do prometido.

Confrontado com os fiascos anteriores, Doria diz que agora será diferente. O governador sem dúvida merecerá aplausos e o agradecimento dos paulistas caso conclua seu ambicioso plano. No ambiente de águas turvas da política, é recomendável manter a necessária dose de ceticismo, ainda mais diante do histórico do assunto em tela.

editoriais@grupofolha.com.br

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