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Daniel Douek

Relembrar 1967

Guerra dos Seis Dias redefiniu as fronteiras do Oriente Médio

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Daniel Douek, cientista social e colaborador do Instituto Brasil-Israel
O cientista social Daniel Douek - Divulgação

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Há 52 anos, entre os dias 5 e 10 de junho de 1967, acontecia a Guerra dos Seis Dias. O conflito opôs o Estado de Israel a uma coalizão formada por Egito, Síria, Jordânia e Iraque e redefiniu as fronteiras do Oriente Médio. Embora algumas de suas implicações perdurem até os dias de hoje, poucas devem ser as manifestações em memória da data. Isso porque cada vez menos atores políticos relevantes têm interesse nesta lembrança.

Na ocasião, em apenas seis dias Israel derrotou os países árabes e expandiu seu território em diversas direções: ao norte, conquistou as colinas de Golã, da Síria. A oeste, a Cisjordânia, incluindo a porção oriental de Jerusalém, da Jordânia. Ao sul, Gaza e o deserto do Sinai, do Egito.

A expansão territorial acabou incluindo populações árabes-palestinas nas áreas sob controle de Israel, porém sem direitos de cidadania no Estado israelense —ao contrário das populações árabes-palestinas que já viviam no país. Além disso, abriu caminho para que cidadãos de Israel passassem a viver em colônias construídas nas regiões conquistadas.


A nova configuração produziu distinções de status legal entre pessoas coabitando um mesmo espaço e postergou a criação de um Estado árabe-palestino ao lado do Estado judeu, tal como preconizada pela Organização das Nações Unidas e defendida pelo Brasil.

De lá para cá, Israel assinou tratados de paz com o Egito, que resultaram na devolução do Sinai, e com a Jordânia. Entretanto, os territórios de Gaza e da Cisjordânia seguem “em disputa”, no linguajar oficial israelense, ou “ocupados”, no vocabulário palestino e de setores significativos da sociedade civil em Israel. Já Jerusalém Oriental e as colinas de Golã foram incorporados pelo Estado de Israel, ainda que sejam considerados também “ocupados” pelos palestinos e por grande parte da comunidade internacional.

Embora tenha desencadeado transformações dessa magnitude, o ano de 1967 vem passando por um paulatino apagamento. Outros marcos costumam mobilizar ativistas. O mais significativo é 1948, ano da criação de Israel, celebrado por israelenses e judeus do mundo todo como o momento de sua independência e lembrado por palestinos como o início de sua tragédia.


Do lado do governo israelense, o esforço está em fazer sumir das vistas as diferenças entre aquilo que é internacionalmente reconhecido como território do Estado de Israel e aquilo que está para além da chamada linha verde, isto é, o traçado do armistício de 1949, que vigorou até o início da Guerra dos Seis Dias. Em outras palavras, obscurecer distinções entre, por exemplo, a cidade de Tel Aviv e o assentamento de Ariel, como se houvesse legalidade na presença israelense também em territórios palestinos.

Já entre grupos palestinos ou pró-palestinos, o ano de 1967 perde importância por ser percebido apenas como a continuação de um processo ilegítimo que teve início em 1948. O esforço está em ofuscar distinções entre, por exemplo, a cidade de Ramallah, na Cisjordânia, e Nazaré, no norte de Israel, como se todo o território em que o Estado de Israel se encontra fosse ocupado ilegalmente.

O problema desse duplo apagamento são as perspectivas de futuro. Esse ideário enseja uma realidade que não concebe a coexistência de dois Estados vivendo lado a lado, em paz.


Urge, portanto, recolocar o ano de 1967 na pauta no debate público, e o retorno às fronteiras daquele ano como premissa para o endereçamento do conflito entre israelenses e palestinos.

As controvérsias não se resolveriam de imediato. Discussões sobre o status de Jerusalém, sobre os refugiados palestinos de 1948 e sobre a eventual troca de terras para a absorção de assentamentos israelenses se seguiriam. Ainda assim, é a alternativa capaz de satisfazer as aspirações nacionais e necessidades mais prementes dos atores que estão em jogo: autodeterminação, com segurança e liberdade.

Daniel Douek

Cientista social, é mestre em letras pelo Programa de Estudos Judaicos e Árabes da USP e diretor do Instituto Brasil-Israel

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