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Saga tucana

Após rescisão de contratos, trecho norte do Rodoanel está numa espécie de limbo

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Trecho norte do Rodoanel, próximo ao Jardim Damasceno, na capital paulista
Trecho norte do Rodoanel, próximo ao Jardim Damasceno, na capital paulista - Danilo Verpa/Folhapress

Cinco anos após a data prevista para sua conclusão, o Rodoanel Mário Covas permanece em aberto. A principal obra viária em duas décadas de domínio do PSDB em São Paulo entra para a crônica tucana como um círculo infernal de descontrole, inépcia e provável fraude.

Para fechar o contorno falta terminar o trecho norte da via, 44 km que enfim permitiriam desviar o trânsito de cargas do núcleo da região metropolitana. O anel viário perfaz 181 km e um rol interminável de indícios de corrupção.

No fulcro das suspeitas se acha a estatal paulista Dersa, epicentro dos escândalos sob investigação em torno de seu ex-diretor Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, suposto operador de propina do partido. O braço paulista da Lava Jato estima que a construção foi contratada com R$ 480 milhões de sobrepreço.

O trecho norte está numa espécie de limbo, após rescisão em 2018 dos contratos para construção de seis lotes determinada pelo então governador, Márcio França (PSB), sucessor de Geraldo Alckmin (PSDB). Os segmentos mais atrasados cabiam às empreiteiras OAS e Mendes Junior, ambas encalacradas na Lava Jato e em recuperação judicial.

A retomada das obras depende de solucionar uma sequência kafkiana de questões. Qual percentual dos trabalhos foi executado? Os projetos foram seguidos? Quanto se desembolsou efetivamente para as contratadas? Houve irregularidades nos pagamentos?

Parece incrível que um empreendimento desse porte, no qual já se enterraram R$ 9,1 bilhões, padeça sob tamanho descalabro.

Para piorar as coisas, um pente-fino na situação do trecho norte determinado pelo atual governador, João Doria (também PSDB), deu pela falta de centenas de documentos a comprovar segurança e adequação do já construído às especificações dos projetos originais.

Ex-dirigentes da Dersa negam que a documentação não tenha sido apresentada no tempo devido.

Se nem oficiais tucanos conseguem se pôr de acordo a respeito, o que dirá o público que paga seus salários e a conta bilionária do Rodoanel, potencializada pela postergação indefinida dos benefícios urbanos que dela adviriam?

Não se descarta que a intenção de Doria seja esvaziar de vez a Dersa para com isso facilitar a dissolução desse poço sem fundo de dificuldades para o PSDB. Seria desejável, entretanto, que ele também empregasse energia em pôr fim à obra e ao enredo lamentável que seu partido criou e encenou.

editoriais@grupofolha.com.br

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