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Larissa Abdelmassih

As bolas pretas a serviço da discriminação infantil

Integrantes do Paulistano se supõem acima das leis

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Desde 2014, em texto de minha lavra publicado neste espaço, procurei resguardar a mim e a meus filhos da curiosidade alheia, enquanto minha vida era exposta como uma novela. Mas não posso impor-me silêncio diante da atitude discriminatória a que eu e meus filhos de apenas sete anos fomos expostos pelo Club Athletico Paulistano. 

Eu e meu marido, Roger Abdelmassih, fomos excluídos do quadro social em 5 de agosto de 2011, em razão de inadimplência de pequeno valor —não guardando relação com o processo criminal contra meu esposo em 2009, até porque não havia, e não há, trânsito em julgado da sentença que o condenou.  
Em fevereiro último, formulei pedido de readmissão ao clube, junto com meus filhos, deixando claro que meu marido jamais frequentaria o local —não só porque juridicamente isso lhe seria vedado, mas por seu grave estado de saúde. 

Após fornecer certidões negativas, criminais e cíveis e indicar sete sócios que endossavam meu caráter ilibado, notícias começaram a ser veiculadas na mídia, o que fez irromper movimento irracional e preconceituoso de alguns associados no sentido de vetar nossa admissão ao clube, o que acabou ocorrendo em 24 de junho. 

Logotipo do Club Athletico Paulistano, tradicional clube de São Paulo
Logotipo do Club Athletico Paulistano, tradicional clube de São Paulo - Fernando Donasci - 19.ju.10/Folhapress

A rejeição causou-me surpresa. Afinal, não se concebe a ideia de uma agremiação que se diz preocupada com a lei proceder a uma atuação nitidamente discriminatória, mormente em detrimento de duas crianças. 

Mais que surpresa, a rejeição provocou espanto, na medida em que, até onde é possível saber (já que as razões da rejeição não nos foram comunicadas), o clube se valeu de questões jurídicas e midiáticas envolvendo meu marido para punir meus filhos e a mim, segregando-nos do convívio social em verdadeira afronta ao princípio constitucional de que nenhuma pena passará da pessoa do condenado (art. 5º, inc. XLV, CF/88).

Aqui, há que se optar: ou aplaudimos um clube que utiliza de subterfúgios para justificar discriminação preconceituosa contra crianças que tiveram um pai preso; ou condenamos esse clube, colocando-nos no lugar dessas crianças.

A questão que subjaz não se chama Roger Abdelmassih —afinal, frequentam o Paulistano dois filhos adultos que trabalharam na clínica do pai. O tema, aqui, atende pelo nome de discriminação, e repugnante, pois atenta contra crianças que deveriam ser tuteladas por todos. 

A atitude do clube evidencia que seus integrantes se supõem acima das leis, ainda que sob a justificativa de cumprir um estatuto social. 

Preponderou, no veredicto do olimpo, a força de preconceito que se presta a criar muros para selecionar um grupo que se vê acima de tudo e de todos. Afinal, que se pode dizer da diretoria de um clube onde um dos seus proclama jubilosamente “agora é oficial, a Sra. Larissa Abdelmassih não merece estar entre nós”?

Se não enfrentarmos essa questão, não só meus filhos, pequenos e indefesos, serão afetados, mas também todos os cidadãos que venham a ter violados seus direitos e serão vítimas de injustiças.

Larissa Abdelmassih

Advogada, ex-advogada da União (2002) e ex-procuradora da Fazenda Nacional (2003-2006) e da República (2006-2011)

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