Recentemente a avenida Paulista, em São Paulo, reuniu mais de três milhões de pessoas para a 23ª Parada do Orgulho LGBT, considerada a maior do mundo. Ironicamente, no mesmo local, um casal homossexual que andar de mãos dadas pode ser vítima de homofobia.
A situação reflete uma realidade ainda muito dura para a população LGBTQIA+ no Brasil, onde a cada 19 horas, em média, uma pessoa lésbica, gay, bissexual, trans ou travesti é assassinada, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia, uma das maiores organizações para os direitos LGBTQIA+ do país.
O movimento surgiu no Brasil em 1979, com a organização dos primeiros encontros no Rio de Janeiro, a fim de pleitear a igualdade de direitos previstos na Constituição, independentemente da orientação sexual. A partir dos anos 1980 surgiram organizações em defesa da causa e os grupos passaram a ter espaço na mídia, ainda que de forma estereotipada. As primeiras paradas do Orgulho LGBT foram realizadas no final da década de 1990.
De lá para cá, muita coisa mudou. A homossexualidade saiu da lista internacional de doenças da Organização Mundial da Saúde; o Brasil vetou o termo como “pederastia” do Código Penal Militar, que penalizava atos sexuais praticados dentro das Forças Armadas; reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo gênero, além de permitir que transexuais retifiquem seu nome e gênero no registro civil, independentemente da cirurgia de redesignação sexual.
Mas, apesar dos avanços, há muito o que se fazer. A discriminação contra a população LGBTQIA+ é um problema constante, que está presente nas salas de aula, no ambiente de trabalho, nos espaços públicos e dentro de casa. Embora o Brasil, em âmbito mundial, esteja no grupo de países que preveem proteção ampla contra a discriminação por orientação sexual, como mostra a última edição do Mapa dos Direitos LGBTQIA+, da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Pessoas Trans e Intersexuais, o país ainda vive um período de alta violência que faz vítimas todos os dias.
No mercado de trabalho, a diversidade e a inclusão ainda é um grande desafio para as empresas. De acordo com estudo feito recentemente pela rede social LinkedIn com mais de mil profissionais de diversas regiões do país, 35% dos entrevistados LGBTQIA+ já sofreram algum tipo de discriminação velada ou direta e 12% disseram que a discriminação partiu de líderes da empresa, incluindo gestores. Além de apoiar a causa, é preciso fazer a tarefa de olhar para dentro de casa e pôr em prática uma estratégia de atração, retenção e desenvolvimento dos grupos historicamente minorizados.
No campo das políticas públicas, a recente decisão do Supremo Tribunal Federal de determinar a aplicação da lei 7716/89, que prevê crimes de discriminação ou preconceito por raça, cor, etnia, religião e procedência nacional, para casos de discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, contribui para reforçar a discussão sobre o tema, inclusive no embasamento de políticas internas das empresas.
Mudar essa realidade significa reconhecer um Brasil diverso, que deve respeitar as diferenças e que faz delas ferramenta para promover transformações nas relações humanas e sociais. A luta da população LGBTQIA+, assim como os movimentos em defesa dos direitos da população negra, da igualdade de gênero, do feminismo, das pessoas com deficiência e dos que vivem em situação de vulnerabilidade social é uma única luta, a luta pelos direitos humanos.
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