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Disparates amazônicos

General Heleno e ministro do Ambiente lançam teses descabidas sobre desmatamento

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O general Augusto Heleno, do GSI, para quem os índices de desmatamento na Amazônia são manipulados - Pedro Ladeira - 03.jan.19/Folhapress

Nos últimos dias, membros do primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro (PSL) se dedicaram a propagar teses disparatadas acerca da devastação florestal amazônica.

A primeira veio do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno. Em entrevista à BBC Brasil, o general da reserva questionou a fidedignidade dos índices de desmatamento, classificando-os de “manipulados”.

Se fossem somados os percentuais divulgados até hoje, afirmou, “a Amazônia já seria um deserto”.
Absurda em si, a declaração não apenas coloca em dúvida o trabalho do Inpe, órgão federal que há décadas mede as taxas oficiais de desmatamento, como acaba por minimizar um problema grave e que vem se intensificando.

Em maio e em junho, os índices de destruição florestal foram, respectivamente, 35% e 57% maiores que nos mesmos meses de 2018, segundo dados do instituto espacial.

Os desatinos prosseguiram com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que, a seu modo, também buscou subestimar a depredação amazônica. Para ele, contudo, o problema não reside em taxas de desmatamento exageradas, mas na incompreensão acerca do seu real significado.

“Busca-se o zero absoluto ou o zero relativo? O zero relativo nós já atingimos”, disse, referindo-se à área proporcional da Amazônia destruída no ano passado, 0,2%. A matemática estrambótica de Salles, no entanto, esconde que esse percentual aparentemente pequeno representa nada menos de 7.536 km², área equivalente a cinco vezes a da cidade de São Paulo.

Não bastassem as estultices retóricas, o governo federal vem criando impasses na condução do Fundo Amazônia que põem em risco a continuidade desse mecanismo de financiamento do combate à devastação florestal.

Após reunirem-se com Salles, os embaixadores da Noruega e da Alemanha, países doadores de 99% dos recursos do fundo, afirmaram que a parceria, criada em 2008, pode vir a ser extinta.

Na origem dos desacordos, estão as reiteradas tentativas do governo de desvirtuar o instrumento, gerido pelo BNDES. 

Caso um acordo não seja alcançado, o país perderá quase R$ 2 bilhões entre recursos não consumidos ou ainda sem destinação —e o maior prejudicado será o próprio Estado brasileiro, destinatário de 60% do R$ 1,8 bilhão já empenhado.

No atual panorama, a perda dessa verba dificilmente seria compensada no Orçamento. O resultado, não é difícil prever, será o enfraquecimento das políticas ambientais.

editoriais@grupofolha.com.br

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