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O ultimato de Covas

Prefeito busca espaço no partido e na política ao cobrar expulsão de Aécio Neves

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O prefeito Bruno Covas (ao centro) visita local onde um incêndio fez desabar a antiga sede da Policia Federal, no largo do Paisandu, em São Paulo
O prefeito Bruno Covas (ao centro) visita local onde um incêndio fez desabar a antiga sede da Policia Federal, no largo do Paisandu, em São Paulo - Danilo Verpa - 1°.mai.18/Folhapress

Quinze meses após se tornar prefeito de São Paulo porque o titular concorreria ao governo estadual, e a 15 meses de disputar a eleição para se manter no cargo, Bruno Covas busca se fazer ouvir em um cenário político cacofônico.

De sua usual discrição, o tucano saltou à atenção nacional ao dar ao partido um ultimato para a expulsão do deputado federal e ex-presidenciável Aécio Neves, acusado de corrupção —num momento em que seu outrora padrinho político, João Doria, redesenha a legenda a partir do Bandeirantes.

A declaração, ao embutir a ameaça de o próprio Covas deixar o partido, indica um descolamento entre os antes companheiros de chapa e ressoa no ninho tucano. 

O político de 39 anos, afinal, não apenas governa a maior cidade do país, um trampolim político potente; ele carrega consigo parte do DNA da legenda que seu avô, Mário Covas (1930-2001), ajudou a fundar em 1988.

No primeiro aspecto, Bruno Covas anota, até agora, um desempenho anódino. Sem marca pessoal maior, deixou de lado bandeiras do hoje governador e elegeu a zeladoria como cerne de sua gestão, triplicando para R$ 1,5 bilhão o investimento no setor neste ano. 

Buracos, calçadas, luminárias e praças, porém, chamam mais atenção quando causam problemas do que quando estão devidamente cuidados —e muitos deles continuam a incomodar paulistanos.

No segundo aspecto, o de carregar o legado do avô a uma outra era política, Covas tem sido mais incisivo. Em entrevistas como a que deu a esta Folha em abril, seu primeiro aniversário no cargo, ressaltou que a tradição do partido é a da social-democracia. 

A posição, em tese mais para a centro-esquerda do espectro político, contrapõe-se à do governador, que se declara de centro e abraça o liberalismo com entusiasmo.

Covas parece acenar a um eleitorado que se decepcionou com Doria quando este deixou a prefeitura precocemente —mas que tampouco encontrou alento em nomes mais à direita ou à esquerda.

O cenário em 2020 não será fácil para um político que há 15 meses, conforme o Datafolha, era conhecido por apenas 3 de cada 10 moradores de São Paulo, parte dos quais o relacionava antes ao avô e não à trajetória como deputado estadual e federal, secretário estadual do Meio Ambiente e vice-prefeito.

Numa metrópole insalubre para governantes e a caminho de uma disputa eleitoral que se afigura pouco previsível, Covas precisará ser assertivo para se fazer notar no alarido da campanha.

editoriais@grupofolha.com.br

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