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Terror venezuelano

Relatório da ONU sobre a violência do regime deveria chocar direita e esquerda

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Manifestantes contrários a Maduro entram em confronto com forças de segurança em Caracas, no 1º de Maio - Matias Delacroix - 01.mai.19/AFP

A ex-presidente chilena Michelle Bachelet, socialista, não pode em sã consciência ser chamada de direitista ou agente do imperialismo. Toda pessoa que preze democracia e direitos humanos, qualquer que seja sua inclinação ideológica, deveria espantar-se com o relatório que produziu sobre a Venezuela.

À frente do Alto Comissariado para Direitos Humanos da ONU, Bachelet visitou Caracas entre 19 e 21 de junho. Sua equipe colheu 558 testemunhos de venezuelanos sobre violações de garantias individuais e a situação socioeconômica do país. O panorama deles extraído é acabrunhante.

Não que os excessos da ditadura de Nicolás Maduro fossem propriamente desconhecidos. Mesmo assim, choca ver tantas desgraças reunidas sob a frieza dos números.

Em 17 meses, de janeiro de 2018 a maio de 2019, ao menos 6.856 pessoas acabaram mortas por supostamente resistir à prisão. Segundo organizações não governamentais, entretanto, o total alcançaria 9.647.

Pelos relatos amealhados, a maioria dos casos seria de execuções extrajudiciais perpetradas por razões políticas. Esquadrões da morte invadem residências de opositores sem mandados, matam homens e despem ou violentam mulheres.

Houve ainda 80 pessoas mortas em protestos, duramente reprimidos pela Guarda Nacional Bolivariana e a Polícia Nacional Bolivariana, e mais de 15 mil detidos por motivos políticos. Não faltam os relatos de torturas.

Um regime de terror, não resta dúvida, ao menos para quem não tem os olhos anuviados pela cegueira ideológica. Não bastassem a repressão abjeta e a supressão das liberdades, a população da Venezuela sofre com o estado terminal da economia sob a gestão de Maduro.

O relatório Bachelet não poupa cifras do descalabro: o salário mínimo de US$ 7 mensais não compra nem 5% da cesta básica; gastam-se dez horas por dia em filas por alimentos; em quatro meses, ocorreram 1.557 mortes em hospitais por falta de suprimentos.

Caem no ridículo as alegações de Maduro de que tudo decorre do embargo dos Estados Unidos e de uma fantasiosa conspiração fascista. Sua ditadura sanguinária fracassou em todas as frentes, mas não cede no ânimo de manter amordaçados os venezuelanos.

Evidência disso são as limitações impostas a duas dezenas de presos políticos libertados depois das denúncias da ONU. Embora livres do cárcere, lideranças como a juíza Maria Lourdes Afiuni e o jornalista Braulio Jatar estão impedidos de viajar, dar entrevistas ou de frequentar redes sociais.

editoriais@grupofolha.com.br

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