Descrição de chapéu

Omissão de Moro

Ministro se cala diante de pressões do presidente sobre a PF, ligada a sua pasta

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O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sergio Moro (Justiça), em cerimônia no Palácio do Planalto - Adriano Machado - 17.jun.19/Reuters

É constrangedor o silêncio do ministro da Justiça, Sergio Moro, diante das sucessivas tentativas do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de interferir em assuntos da Polícia Federal, vinculada à sua pasta.

Nos últimos dias, o chefe do Executivo sugeriu a troca do superintendente da corporação no Rio de Janeiro e depois a substituição do seu diretor-geral, Maurício Valeixo, indicado por Moro para a função.

Para que não restasse dúvida sobre sua disposição, Bolsonaro aproveitou uma entrevista para lembrar que cabe a ele a nomeação do diretor da PF, e não a seu ministro.

As declarações causaram desconforto em toda parte, na esteira de ataques semelhantes desferidos pelo presidente contra outras instituições e órgãos de controle como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Entre os policiais, as falas foram recebidas como afronta à autonomia conquistada pela instituição nos anos que se seguiram à redemocratização, em que se esforçou para profissionalizar seus quadros e se isolar de influências políticas.

Daí o espanto com a letargia de Moro, que evitou fazer comentários sobre o assunto e não levantou a voz em público nem mesmo para defender pessoas que levou para o governo, como Valeixo e o ex-presidente do Coaf Roberto Leonel.

Quando decidiu abandonar a magistratura para ser ministro de Bolsonaro, o ex-juiz da Operação Lava Jato disse que o fazia com o objetivo de usar a força do governo federal para impulsionar o combate à corrupção e a outros crimes.

Mas o próprio presidente tem se encarregado de podar suas ambições, desautorizando Moro em público e distanciando-se do seu principal projeto —o pacote anticrime apresentado ao Congresso.

Até a promessa de que o ministro ficaria com a primeira vaga que surgisse no Supremo Tribunal Federal parece esquecida, após o surgimento de outros pretendentes.

Ao minar a credibilidade de seu auxiliar, Bolsonaro aprofunda o desgaste que a reputação de Moro vem sofrendo desde o vazamento das mensagens da Lava Jato obtidas pelo site The Intercept Brasil.

Não faltam evidências de que o presidente age em causa própria, preocupado com o avanço de investigações sobre as finanças de seu partido e sobre seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

Quando chegou a Brasília, Moro parecia uma pessoa talhada para proteger a independência de instituições como a PF contra os piores instintos do bolsonarismo. Passados oito meses, sua omissão injustificável indica que o país precisa de outro anteparo para contê-los.

editoriais@grupofolha.com.br

Erramos: o texto foi alterado

O nome do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, foi grafado incorretamente como Maurício Aleixo na primeira versão deste editorial. O texto já foi corrigido.

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