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Fim trágico do governo Macri dificulta renegociação ordenada da dívida argentina

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O presidente da Argentina, Mauricio Macri - Agustin Marcarian/Reuters

Com a decisão de adiar o pagamento de dívidas vincendas nos próximos meses e buscar uma ampla renegociação de prazos com os credores da Argentina, o governo de Mauricio Macri sela seu fracasso econômico —que, tudo indica, deve ser acompanhado de derrota eleitoral em outubro.

A moratória —palavra que a Casa Rosada tenta evitar— acabou precipitada pelos fatos. Os investidores já fugiam dos ativos argentinos desde os resultados das eleições primárias de 11 de agosto, com a vitória por larga margem do candidato peronista, Alberto Fernández.

Desde então, o banco central argentino perdeu US$ 8 bilhões de suas já combalidas reservas em moeda forte, hoje em US$ 57 bilhões. 

A gota d'água foi a recusa do mercado em refinanciar vencimentos de US$ 1,6 bilhão no início da semana. Com poucos recursos em caixa, tornou-se impossível para o governo conter a alta do dólar e ao mesmo tempo honrar em dia os pagamentos das dívidas, estimadas em cerca de US$ 100 bilhões. 

Quanto aos papéis locais de curto prazo, as pessoas físicas continuarão a receber normalmente, mas os investidores institucionais (como bancos e seguradoras) amargarão adiamentos de até seis meses.

As dívidas em dólar emitidas no exterior serão renegociadas com os credores, inclusive os US$ 44 bilhões desembolsados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como parte do programa de ajuste econômico, que passará forçosamente por nova revisão. 

Por ora, o governo propõe apenas um adiamento voluntário e afirma tratar-se de um problema de liquidez, não de solvência. A suspensão dos pagamentos em tese dará algum fôlego para uma gestão menos caótica até o pleito de outubro. 

Mesmo que seja assim no curto prazo, o quadro se apresenta mais complexo. A hoje provável vitória da oposição peronista levou ao colapso dos preços dos ativos argentinos, reforçando a tendência recessiva. A rápida desvalorização do peso deve impulsionar a inflação para mais de 50% neste ano. 

Com a economia em frangalhos por erros da gestão atual, o ônus da dívida pública —que se aproxima do equivalente a 90% do Produto Interno Bruto— vai se elevando.

Politicamente, não há mais o que Macri possa fazer. O fim trágico de seu mandato tampouco favorece uma negociação organizada com os credores, que estarão mais interessados em saber como se comportará o próximo presidente. 

A esse respeito, não é claro que Fernández, caso chegue ao poder, venha a adotar políticas populistas. Apesar de o candidato culpar o acordo com o FMI pelas mazelas atuais, a duríssima realidade acabará por se impor também ao eventual novo governo, que terá incentivos para negociar e viabilizar alguma estabilização da economia.

editoriais@grupofolha.com.br

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