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Temor global

Ameaça à expansão econômica agita mercados; Brasil tem espaço para reduzir juros

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Investidores em dia de nervosismo na Bolsa de Nova York - Jonannes Eisele/AFP

A economia mundial passa novamente por um período turbulento. Num quadro de persistente letargia da atividade, o acirramento dos conflitos comerciais entre Estados Unidos e China aumenta os riscos de uma nova recessão

Os sinais nesse sentido se avolumaram nos últimos meses, com indicadores sugerindo menor crescimento nas duas potências em disputa, enquanto na Europa já parece se instalar uma —até agora pequena— retração industrial.

À diferença do que ocorreu em outros episódios, como a crise de 2008, os desequilíbrios financeiros não se mostram com tanta clareza agora. Deve-se considerar a hipótese de que a expansão do Produto Interno Bruto global venha simplesmente a perder velocidade, caindo de 3,5%, média anual da última década, para algo como 2,5%.

O clima nos mercados, de todo modo, é de grande ansiedade. Os juros globais vem atingindo novas mínimas. Na semana passada, a taxa do papel de 30 anos do Tesouro americano caiu abaixo de 2% ao ano pela primeira vez na história.

Quase todos os países da zona do euro já se financiam com taxas negativas em prazos mais curtos. Na Alemanha, o cidadão paga 0,65% ao ano pelo privilégio de emprestar por dez anos a seu governo. 

Trata-se de um quadro inédito e de difícil explicação. Um decênio de expansão monetária bastou para reduzir o desemprego, mas não produziu aceleração de salários nem demanda exuberante, de consumo ou investimentos.

A inflação segue abaixo das metas dos principais bancos centrais. Os analistas começam a questionar o que resta de munição nos arsenais das autoridades monetárias, caso seja necessário novo combate. 

Se ainda é cedo para um veredito, já surgem sugestões de uma nova rodada de inovações para estimular a economia. Organizações insuspeitas, como o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional pedem maior protagonismo dos governos, com expansão de gastos públicos e cortes de impostos, sobretudo na Europa. 

Seria um erro transpor tais receitas para o Brasil, no entanto. Aqui ainda resta considerável espaço para cortar o custo do dinheiro e assegurar que essa redução chegue aos tomadores finais. 

A perspectiva atual é que a taxa Selic, do Banco Central, caia a apenas 5% nos próximos meses, o que deve trazer algum estímulo à atividade econômica. Nessas condições, o investimento privado em infraestrutura poderá surpreender.

Com ampla ociosidade produtiva, alto desemprego e inflação baixa, o BC deve aproveitar ao máximo a oportunidade. Deve-se evitar, por outro lado, a tentação de medidas que impliquem relaxamento do controle das despesas, condição necessária para que o Estado assegure sua solvência.

editoriais@grupofolha.com.br

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