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Trevas penais

Trump aproveita massacres para defender volta de execuções de condenados à morte

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Boneco de Trump é inflado durante protesto em Ohio - Megan Jelinger/AFP

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou que o governo federal voltará a realizar execuções de condenados à morte, depois de uma espécie de moratória adotada nos últimos 16 anos, quando tal prática havia sido suspensa.

Na triste companhia de países como Irã, Iraque, Arábia Saudita, Paquistão e China, dos quais faz questão de se diferenciar no que concerne a reconhecimento de direitos e normas democráticas, os EUA continuam a ser uma clamorosa exceção no mundo desenvolvido ocidental a adotar a eliminação física de sentenciados.

Em julho havia 62 condenados à morte por crimes federais, e 2.721 em âmbito estadual. Dos 50 estados, 29 preveem a medida extrema.

O anúncio da volta das execuções se dá num momento em que a pena capital perde terreno no plano internacional e prestígio entre os próprios americanos. Hoje o país se divide sobre sua aplicação —ao passo que em 1996 cerca de 80% da população a defendia, segundo dados do Pew Research Center. 

Além de encontrar forte oposição entre liberais e defensores dos direitos humanos, a punição letal também é contestada por setores do conservadorismo.

Nos últimos anos, aumentou nesse segmento a percepção de que matar um condenado não se molda aos princípios conservadores de valorização da vida e de contenção do poder e das prerrogativas do Estado e dos governos. 

Traumática para familiares e executores, a punição tem contra si o argumento incontornável de que não é imune a erros judiciais, deixando aberta a possibilidade de se retirar a vida de um inocente. 
O anúncio do retorno das execuções se inscreve na plataforma anti-iluminista do governo Donald Trump.

Em guerra cultural permanente contra a diversidade, a pauta ambiental, os imigrantes e a comunidade LGBT, o mandatário tornou-se uma espécie de monumento caricato do americanismo racista, arrogante e discriminatório.

Nos últimos dias, aproveitou-se dos atentados a tiros ocorridos no país para defender publicamente a decisão do Departamento de Justiça. Declarou que os responsáveis pelos atentados, assim como os traficantes de drogas, deveriam ser enquadrados na pena de morte. 

São declarações oportunistas que não se amparam em exame mais detido acerca do assunto.

Servem, de modo grosseiro, para tentar justificar reabilitação das execuções federais num momento em que o republicano faz cálculos políticos e toma atitudes com vistas às eleições de 2020, que poderão lhe conceder um novo mandato.

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