Nos bairros nobres de São Paulo, casas e vilas vêm abaixo e dão lugar a prédios e mais prédios. Na periferia, construções se multiplicam e também surgem edifícios cada vez mais altos, com a adição desregulada de lajes pelos moradores.
As décadas passam e o proverbial crescimento desordenado prossegue na maior cidade do Brasil. Em 25 anos, a área construída na metrópole aumentou 60%, como mostrou a série de reportagens Concreto Sem Fim, nesta Folha.
Um instrumento criado em 2001 contribuiu para a explosão de adensamento vertical nas regiões valorizadas da cidade: a chamada outorga onerosa, por meio da qual construtoras pagam para construir além do limite básico estabelecido para uma zona.
A modalidade transformou-se em excelente negócio para as construtoras, que encheram bairros como o Itaim Bibi de altas torres comerciais e residenciais.
Apesar de a outorga onerosa ter se convertido em importante fonte de arrecadação para a prefeitura —que estima obter mais R$ 11 bilhões com a operação nas próximas décadas—, é de imaginar que a metrópole não esteja cobrando o suficiente pelas autorizações, dada a expansão verificada.
Ainda que os valores amealhados sejam usados na infraestrutura urbana, são frequentes entre urbanistas as críticas de que o ganho se traduz quase somente em obras viárias. Não se vê nos bairros fortemente adensados o uso dos recursos em intervenções como reforma de calçadas e criação de parques e praças.
Houve mudanças na lei, ao menos, para direcionar um percentual dos recursos para obras de habitação social e mobilidade. Resta, porém, o desafio de requalificar regiões menos atrativas ao mercado imobiliário, como o centro —onde faria sentido o adensamento diante da estrutura de transporte.
Em uma cidade com déficit de 474 mil moradias, como mostrou a Fundação Getulio Vargas, a verticalização é praticamente inevitável.
Parte das críticas a esse processo são do tipo NIMBY —na sigla em inglês para “não no meu quintal”, referente a grupos que buscam preservar seu quarteirão sem enxergar o quadro maior das necessidades de 12 milhões de habitantes.
No entanto não podem ser as outorgas onerosas o principal caminho para ordenar a cidade, sob pena de multiplicar prédios em bairros de ruas estreitas lotadas, num verdadeiro pesadelo urbanístico.
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