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Erros amazônicos

Maioria aponta mau desempenho de Bolsonaro na política ambiental; guiado por conceitos obsoletos, governo vê preservação como entrave econômico

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Área desmatada por grileiro na Terra Indígena Trincheira Bacajá, no Pará - Lalo de Almeida/Folhapress

​Para a percepção de que o governo Jair Bolsonaro (PSL) tem mau desempenho na política ambiental —compartilhada por 51% dos brasileiros aptos a votar, segundo o Datafolha— contribui, certamente, uma sequência de declarações e atos descabidos do presidente.

O questionamento dos números da alta do desmatamento, confrontos que levaram à suspensão de verbas internacionais para a preservação e acusações fantasiosas a ONGs, entre outros exemplos, associaram o mandatário à piora dos indicadores do setor, mesmo antes de um diagnóstico mais preciso de dimensões e causas.

Na origem da algaravia presidencial sobre a Amazônia está a completa desconsideração por tudo o que já se averiguou quanto à região.

Bolsonaro se ampara no conceito ultrapassado de que há cobiça estrangeira pela Amazônia e que organizações ambientalistas e indigenistas estão a serviço desse suposto interesse espúrio. Sem tal paranoia, 75% dos eleitores consideram legítima a preocupação internacional com a floresta.

É fato que cerca de 14% do território nacional já foi reservado para terras indígenas. Outros 18%, segundo a Embrapa, destinam-se a unidades de conservação, como parques e áreas de proteção.

No Planalto se pressupõe, equivocadamente, que esses 32% representem empecilho ao desenvolvimento agropecuário. O setor mais modernizado do campo há muito adotou a ideia de que, para expandir a produção, não há necessidade de mais desmatamento.

Com efeito, dos 2,46 milhões de quilômetros quadrados utilizados pela agropecuária (29% do Brasil), 1,44 milhão são pastagens. Há enorme espaço para aumento da produtividade da pecuária bovina, que liberaria áreas para o cultivo de commodities como soja e milho.

Ao assestar sua artilharia contra terras indígenas, agências ambientais e a suposta conspiração para internacionalizar a Amazônia, Bolsonaro emite a senha para que os atores mais atrasados da Amazônia —grileiros, madeireiros e garimpeiros ilegais— reativem a máquina da devastação.

Nada difere do que tenha dito e repetido antes e depois da vitoriosa campanha eleitoral. Mais do que desprezar e desarticular políticas de combate à destruição da florestas a muito custo construídas pelo Estado brasileiro, Bolsonaro trabalha contra elas. A mobilização do Exército para extinguir queimadas é mera cortina de fumaça.

Só 0,5% das propriedades rurais estão no front do desmatamento. Esse deveria ser o alvo na mira de Brasília, mas o presidente prefere investir cegamente contra os espantalhos indígenas e estrangeiros.

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