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Andrea Apponi e Marcelo Cabral

Gestão pública: inovar é preciso

Tecnologia não é a única resposta para as cidades

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Andrea Apponi Marcelo Cabral

A importância da inovação na gestão das cidades é uma ideia vitoriosa. Com maior ou menor empenho, parte significativa dos nossos gestores públicos está buscando ajuda especializada, selecionando servidores com competências específicas ou fazendo parcerias com instituições focadas no tema. Uma pesquisa sobre a inovação nas cidades, realizada pelo Instituto Arapyaú em parceria com a Plano CDE, trouxe informações importantes sobre o que anda impedindo um avanço mais rápido e significativo nessa área.

Questionados sobre quais seriam os gargalos para a implementação de modelos de inovação nas cidades, 47,5% dos administradores indicaram a falta de recurso como maior entrave, seguido da burocracia (24,2%), carência de recursos humanos (14,2%) e falta de cultura inovadora (11,7%). De uma forma ou de outra, são fatores institucionais que colocam obstáculos ao avanço da agenda.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL), acompanhado dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), na abertura da 22ª Marcha dos Prefeitos, em Brasília - Pedro Ladeira - 09.abr.19/Folhapress

O foco na questão dos custos acaba escondendo uma das maiores qualidades dos sistemas de inovação: eles não dependem (inicialmente) de muito dinheiro nem de novas tecnologias. Sabemos que essa ideia pode chocar quem vê inovação como sinônimo de aplicativos inteligentes, com respostas para todos os problemas. A pesquisa indicou que, para 47% dos administradores, inovação é sinônimo de tecnologia, revelando que a agenda ainda passa por amadurecimento.

Nesse processo de inovação, a capacitação dos gestores públicos é fundamental. Não é possível pensarmos em cidades inteligentes sem gestores inteligentes. Falamos aqui de qualificação constante, projetos com processos transparentes e participativos desde o desenho até a implementação e, em seguida, monitoramento, com ciclos rápidos de feedback baseados em dados. Trata-se de uma série de agendas que indicam caminhos efetivos e possíveis para melhorar as cidades brasileiras.

Nesse ciclo virtuoso de inovação para nossas cidades, o apoio externo, de organizações sociais ou da iniciativa privada, mostra-se fundamental. Essas entidades estão trazendo insumos valorosos e criando oportunidades de experimentação que raramente são possíveis na ação pública. A academia também tem dado contribuições importantes, buscar o apoio das universidades é fundamental e, muitas vezes, são opções de menor custo. 

E, por meio dessa rede colaborativa, é possível chegar a um norte comum quando falamos de inovação na gestão pública: contornar a escassez dos recursos públicos e conseguir promover em escala melhor qualidade de vida à sociedade.

A capacitação das próprias entidades que atuam no setor público é um grande desafio. Entender os processos é fundamental, pois a implementação de novas políticas públicas pode travar em diversos caminhos da gestão. Ter afinidade com um projeto de lei, com as filigranas de um orçamento público ou entender como as decisões são tomadas dentro de uma Câmara de Vereadores são competências fundamentais para atuar junto à área pública.

Diante de tudo isso, fica evidente que uma mudança cultural em torno desse tema é essencial. É preciso inovar nos papéis e nas formas de parceria. Sobretudo, não desviar a atenção daquilo que realmente importa e é central em toda essa discussão: melhorar a vida das pessoas.

Andrea Apponi

Engenheira com especialização em gestão pública pela Harvard Kennedy School (EUA) e diretora-executiva do Instituto Arapyaú

Marcelo Cabral

Mestre em políticas públicas pela Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA) e gestor do programa Cidades e Territórios do Instituto Arapyaú

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