Descrição de chapéu

Moderador de apetite

Sem respaldo da opinião pública, pauta de costumes da direita para no Congresso

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Manifestantes contrários e favoráveis ao projeto da Escola sem Partido, durante debate na Câmara - Pedro Ladeira - 31.out.18/Folhapress

Quem faz oposição responsável à massa direitista que se espessa desde as eleições municipais de 2016 deveria estar atento a uma distinção crucial. Há que separar atitudes e propostas conservadoras legítimas, embora criticáveis, das que ameacem pilares do pacto civil.

A estas últimas não cabe outra reação que não o repúdio frontal. Um prefeito que manda censurar livros, como fez Marcelo Crivella (PRB) na Bienal do Rio, não entendeu onde estão as linhas do campo de jogo. O vereador Carlos Bolsonaro (PSL), ao criticar os meios democráticos, tampouco.

Há, no entanto, um conjunto de iniciativas oriundas de políticos conservadores que, por observar os protocolos regulares da tramitação, exige respeito pelos resultados institucionais que venha a produzir, goste-se ou não deles.

Mesmo na contramão das evidências científicas e do que ocorre no resto do mundo, flexibilizar a posse e o porte de armas vai se tornar política pública legitimada caso as propostas nesse sentido obtenham maioria no Congresso Nacional, sejam sancionadas pelo presidente e ratificadas pelos controles do Supremo Tribunal Federal.

Isso também vale, entre outros casos, para o projeto de reduzir a maioridade penal, o de definir o núcleo familiar como união entre homem e mulher, o de ampliar a restrição ao aborto e o de disciplinar a conduta de professores.

O andamento bastante lento dessas propostas no Legislativo federal, como mostrou a Folha nesta terça (10), revela a dificuldade da pauta conservadora de costumes já no ponto inicial da trajetória.

Tomam-lhe a frente evidentes prioridades, sobretudo o extenso rol de modificações normativas para tirar os tesouros estatais da falência e a economia do buraco. Mas decerto um pedaço da resistência pode ser atribuído à carência de massa crítica parlamentar para fazer os projetos caminharem.

As lideranças que coordenam maiorias congressuais atuam como uma espécie de moderador de apetite para propostas radicais. Agiam de modo parecido quando o Planalto era comandado pela centro-esquerda petista e recobram a função agora, com seus filtros direcionados à direita que ascendeu com Jair Bolsonaro (PSL).

A maior parte da população não se identifica com a pauta de costumes da nova direita, como já mostrou o Datafolha. Muitos elementos dessa agenda configuram importações caricatas de temas que vicejam no ambiente sociopolítico dos Estados Unidos, mas que são estranhos à realidade brasileira.

Ao colocar areia na engrenagem neodireitista, as maiorias do Congresso não deixam, assim, de cumprir seu papel de refletir preferências de quem lhes deu o mandato.

editoriais@grupofolha.com.br

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