Descrição de chapéu

Populista pragmático

Na Bolívia, Morales obtém avanço econômico manchado por seu apego ao poder

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O presidente boliviano Evo Morales durante discurso na cidade de Oruro, no centro-oeste do país - Diego Lisboa/Folhapress

O presidente da Bolívia, Evo Morales, é um sobrevivente da onda vermelha que atingiu a América do Sul na década passada.

Nomes como Lula, Hugo Chávez (Venezuela), o casal Kirchner (Argentina), Michelle Bachelet (Chile), Tabaré Vázquez (Uruguai), Fernando Lugo (Paraguai), Rafael Correa (Equador) e Morales dominaram o noticiário regional do período, cada qual com seu quinhão de acertos e erros —estes mais visíveis hoje devido à tragédia do chavismo.

Entretanto, mais ou menos como esperado pela conjunção de ciclos econômicos com a alternância do poder, neste final dos anos 2010 grande parte desses países caminhou da esquerda para a direita, com as exceções mais notáveis de Uruguai, Venezuela e Bolívia.

O primeiro caso se explica por melhor institucionalidade e resultados satisfatórios na economia. O oposto se vê, de modo extremado, na Venezuela, que descambou para a ditadura com calamidade social.

Tanto na geografia como na política, a Bolívia se encontra no meio do caminho entre um e outro. Morales, graças à sua flexibilidade, continua no poder. Apesar de uma retórica até mais esquerdista que a de Chávez, o ex-líder cocaleiro soube administrar a política econômica com bom senso.

Quando assumiu o governo, em 2006, o Produto Interno Bruto cresceu a uma média de 4,8% ao ano —o que até certo ponto seria de esperar em um país que historicamente contabilizou a menor renda per capita do continente.

Os resultados parecem bem distribuídos. Há 13 anos, os pobres representavam 60% da população; hoje, são 35%. Mesmo admitindo que é mais fácil obter números assim quando se parte de uma base muito ruim, não há como deixar de reconhecer que a gestão de Morales se saiu bem nesse quesito.

Já em relação às instituições, não há muito a celebrar. O presidente boliviano nunca abandonou o figurino do político populista e, como alguns de seus homólogos da onda vermelha, não hesitou em torcer as regras para se manter na cadeira.

Baseado em interpretações no mínimo casuísticas, que foram aceitas pelos juízes do tribunal constitucional, ele disputará neste ano seu quarto mandato —embora a Constituição limite o número de reeleições a uma.

A resiliência de Morales também está associada a um pragmatismo que destoa de sua retórica ideológica. Recorde-se que o presidente boliviano mantém relações cordiais com Jair Bolsonaro (PSL) e não hesitou em extraditar o terrorista Cesare Battisti para a Itália.

Sua rejeição à alternância no poder, no entanto, torna parcial e incerto o progresso do país.

editoriais@grupofolha.com.br

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