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Flavio F. de Figueiredo

Repetem-se as tragédias anunciadas

Incêndio em favela sob viaduto em SP era previsível

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Barracos atingidos por incêndio ficavam sob o viaduto Alcântara Machado, na zona leste de São Paulo - Rivaldo Gomes - 13.set.19/Folhapress
Flavio F. de Figueiredo

Sempre que acontece algum acidente ou alguma tragédia, é impressionante a quantidade de manifestações de boas intenções dos envolvidos. Em especial quando ocorreu o desabamento parcial de viaduto na marginal Pinheiros, em São Paulo, os gestores prometeram vistorias, intervenções emergenciais etc.

Há alguns dias, passei ao lado do viaduto Alcântara Machado e fiquei estarrecido, como consultor e como cidadão. Sob o viaduto, que é elo fundamental para a ligação Leste-Oeste da capital paulista, havia uma grande quantidade de barracos de madeira, apenas esperando que o incêndio chegasse.

Pela posição dos barracos, era evidente que um incêndio no local poderia causar inconvenientes de toda a sorte para os milhões de pessoas que dependem dessa importante artéria viária, pois poderia afetar a estrutura do viaduto. O incêndio aconteceu e a ligação Leste-Oeste ficou parcialmente interditada ao tráfego.

Onde estão nossos gestores? Onde estão os técnicos? Onde está a assistência social? Quando se fala de inspecionar uma obra, não basta o exame dela em si. É necessária a verificação de fatores de risco externos à obra. No caso, a existência de barracos é risco que deveria ser óbvio para a administração municipal, tendo em vista a quantidade de ocorrências importantes relacionadas a incêndios sob viadutos e pontes.

Na realidade, não seria necessária sequer a interferência de técnicos para identificar esse risco, pois ele era visível e óbvio. Bastaria apenas bom senso e vontade de agir.

Pela posição dos barracos, o risco não se restringia à obra. O emaranhado de habitações sob o viaduto era verdadeira armadilha para muitos daqueles que ali residiam. Esses seres humanos não merecem atenção?

Se para local tão importante não foi dispensado qualquer cuidado, fico pensando como estão sendo feitas as inspeções de risco em outras obras e tomadas medidas emergenciais, como prometeu a Prefeitura de São Paulo.

Só me resta uma pergunta, pois minha indignação impede outros pensamentos: o que estão esperando para agir de forma correta?

Flavio F. de Figueiredo

Engenheiro civil, consultor e conselheiro do Ibape/SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo)

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