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Sinuca ambiental

Atos minam credibilidade de eventual mostra de sensatez de Bolsonaro na ONU

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Manifestação pelo clima em Brisbane, na Austrália - Reuters

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo), precisam atentar para o que se passou na sexta-feira (20). Centenas de milhares, talvez milhões de pessoas foram às ruas no mundo todo para protestar contra a crise do clima.

O movimento inspirado pela adolescente sueca Greta Thunberg se espalhou. Estudantes faltam às aulas às sextas para demandar que adultos, em especial governantes e empresários, ouçam cientistas sobre impactos do aquecimento global que serão sofridos por eles, jovens, não tanto pelos mais velhos.

O governo brasileiro flerta com teses pueris de céticos do clima e de militares que enxergam aí uma conspiração globalista contra a soberania nacional. Aumenta seu descrédito ao negar o óbvio —seja que a atmosfera se aquece com a queima de combustíveis fósseis e florestas, seja que a destruição da Amazônia recrudesceu.

Não haveria grande prejuízo se a querela ficasse restrita às guerras culturais e ideológicas. Mas, não, essa miopia ambiental tem consequências concretas: físicas, para o clima do planeta, além de econômicas e diplomáticas, para o país em isolamento crescente.

Neste fim de semana, a ONU realiza em Nova York reunião de alto nível sobre a questão climática. Salles está na cidade, mas não para reeditar nesse foro o papel de liderança que o Brasil sempre teve, pois a administração que integra foi excluída do rol de discursos por não apresentar propostas para expandir as metas do Acordo de Paris.

O ministro tenta alinhavar nos EUA, por um lado, nebuloso esquema financeiro para fomentar a exploração privada de nossa floresta equatorial. De outro, em seu país, desvirtua e ameaça de morte um recurso que já existe há uma década —o bilionário Fundo Amazônia liderado pela Noruega.
 

Bolsonaro deve cumprir na terça-feira (24) a praxe de presidentes brasileiros abrirem os discursos de chefes de Estado na Assembleia Geral das Nações Unidas. Desta vez, haverá interesse atípico no pronunciamento —mas nem de longe no bom sentido.

Pouco se sabe sobre que tom adotará o presidente no evento. “Ninguém vai brigar com ninguém lá”, foi o máximo que adiantou. Apesar da previsão, ele retomou o argumento segundo o qual estrangeiros fazem da questão ambiental um pretexto para desgastar a imagem do Brasil e obter vantagens no comércio agrícola.

Mesmo que deixe de lado as paranoias e conspirações, Bolsonaro tem escassas chances de reverter o desgaste de sua imagem em boa parte do mundo. Suas declarações e atos pregressos minam a credibilidade de uma eventual demonstração de sensatez.

editoriais@grupofolha.com.br

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