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Esperando Guedes

Com diretrizes corretas e boa equipe, titular da Economia tarda em decisões

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O ministro da Economia, Paulo Guedes - Claudia Martini/Futura Press/Folhapress

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem lá seus dons de oratória. Calcado em convicções liberais, conseguiu mobilizar segmentos do empresariado e do mercado financeiro em torno de seus diagnósticos para o sofrível desempenho brasileiro das últimas décadas.

Chegou ao governo Jair Bolsonaro (PSL) com poderes e autonomia inéditos desde a redemocratização. Sob a direção do “Posto Ipiranga” —aquele que tem as respostas, segundo o presidente— reuniram-se as pastas da Fazenda, do Planejamento, do Trabalho e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Guedes e sua equipe alimentaram a expectativa de avanços rápidos em medidas de modernização, muitas das quais, aliás, já bem mapeadas e debatidas.

Os resultados, ao menos por enquanto, mostram-se decepcionantes, algo que não pode ser atribuído apenas à notória aversão de Bolsonaro à articulação política.

O avanço da reforma da Previdência, o grande feito até aqui, só ocorreu porque o Congresso se convenceu de que sem ela o país cairia num abismo. Ainda assim, notam-se problemas na reta final da tramitação da proposta.

Mas outras medidas importantes da agenda dificilmente terão avanço sem o protagonismo do Executivo. Para tanto, é essencial que o governo diga o que quer e em qual ordem de prioridade, o que até agora não fez com clareza.

Guedes limitou-se a lançar numerosos balões de ensaio, que mais confundem o público do que explicam as intenções do governo.

Tome-se o caso da reforma tributária, de grande complexidade e que abarca vários temas. O principal deles, do ponto de vista da eficiência da economia, é a simplificação da cobrança de impostos sobre bens e serviços. Trata-se, pois, do ponto de partida natural.

Em vez de aproveitar as propostas em tramitação no Congresso, a pasta da Economia perdeu tempo precioso com a tola ideia de ressuscitar a CPMF. Não se conhece, até hoje, a proposta do governo. 

Quanto a um muito especulado novo pacto federativo, tampouco está claro se Executivo e Legislativo falam do mesmo assunto. Enquanto Guedes promete desvincular o Orçamento e reforçar a autonomia regional, os parlamentares só querem saber de abocanhar mais dinheiro da União. 

Ao abrir a possibilidade de mais dinheiro para estados e municípios sem contrapartidas claras de ajuste, o ministro enfraqueceu sua posição na negociação política. 

Por fim, também se aguarda alguma definição de reforma administrativa para enxugar carreiras do funcionalismo e conter a folha de pagamento do setor público. 

À diferença da maioria de seus colegas de primeiro escalão, Guedes trabalha com diretrizes corretas e uma equipe qualificada. Causa mais estranheza, assim, a escassez de providências concretas.

editoriais@grupofolha.com.br

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