O que é um estádio, se não tiver as arquibancadas lotadas de torcedores com as camisas de seu time, a gritar e cantar? Para que serve um campo de futebol se não houver nele 22 jogadores e uma bola?
Inaugurado em 1940, o estádio Paulo Machado de Carvalho —conhecido, em razão do bairro que o hospeda, como o Pacaembu— faz parte da memória afetiva dos paulistanos; lá jogou Pelé, com o Santos; lá o Corinthians conquistou o título da Libertadores em 2012, entre outros momentos históricos.
Quem hoje vai lá assistir a uma partida possivelmente ficará em arquibancadas onde não há cadeiras nem lugar marcado; poderá se aborrecer com o jogo paralisado devido à queda de energia; enfrentará banheiros precários.
Uma experiência certamente distante da vivida nas arenas de padrão Fifa, tão civilizadas e tão homogêneas ao redor do mundo —e sem alma, dirão alguns.
Saudosistas verão elitização e o fim da experiência do estádio tradicional, mas é inevitável que o Pacaembu, agora concedido à iniciativa privada, mude. O consórcio Allegra Pacaembu pagará à prefeitura uma outorga fixa total de R$ 115 milhões e mais 1% da receita bruta anual para administrar o complexo ao longo de 35 anos.
Reformas necessárias serão feitas: todo o estádio terá cadeiras; a capacidade será reduzida dos atuais 40 mil lugares para 26 mil; um shopping tomará o lugar do chamado tobogã —e a estrutura, que não é tombada, será demolida.
Se é positivo que a prefeitura deixe de ter gastos para operar o Pacaembu, a concessão não responde a uma pergunta que se impõe desde que cada time de São Paulo passou a ter sua própria arena: qual a vocação do estádio municipal?
Não sendo a casa de um clube, nem mesmo destino mais frequente de nenhuma agremiação desde que o Corinthians passou a ter seu Itaquerão, em 2014, o Paulo Machado de Carvalho cada vez mais abriga um gramado sem futebol.
A Allegra Pacaembu fez sua proposta: transformá-lo em centro comercial, gastronômico e de eventos. É duvidoso que a capital paulista precise de mais um shopping center, mas ao menos há o mérito de oferecer atrativos para que o paulistano frequente o local.
Quais serão os torcedores a frequentarem o novo Pacaembu, agora com camarote, área VIP, “hospitality”? Os gritos dos fãs ecoarão apenas nos vídeos do Museu do Futebol, ali abrigado?
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