Nos últimos anos, rótulos dos alimentos ganham novas abordagens em todo o mundo. Mais de 40 países já adotaram a rotulagem nutricional frontal como estratégia para facilitar a utilização das informações nutricionais pelos consumidores.
Trata-se de um modelo que traz para a parte da frente das embalagens as principais informações nutricionais do alimento, de maneira a complementar a tabela nutricional. Não existe um padrão para esse modelo, e cada um leva em conta as características de seu país, como nível educacional, cultura e padrões alimentares.
Define-se, agora, o melhor modelo para o Brasil. Desde 2014 a Anvisa conduz um processo para alterar a legislação vigente, e após anos de debates com o setor produtivo e organizações da sociedade civil, foi aberta consulta pública sobre o tema.
O modelo eleito pela Anvisa é o de advertência, inspirado no canadense. O design usa o formato de lupa para sinalizar altos teores de nutrientes —açúcares adicionados, gordura saturada e sódio— na porção de 100 g ou 100 ml de alimentos e bebidas.
A Rede Rotulagem, formada por 20 entidades do setor, acredita que um modelo informativo de rotulagem nutricional é o que melhor oferece ao consumidor as informações necessárias para fazer escolhas alimentares com autonomia e consciência, de acordo com suas características, preferências individuais e no contexto de uma dieta equilibrada.
Nesse sentido, há possibilidades de melhorias no modelo apresentado pela Anvisa. Colocar advertências em alimentos não é efetivo para mudança de hábitos de consumo, conforme admitido pelo ex-ministro da Saúde do Chile Jaime Mañalich. Lá, os rótulos dos alimentos recebem um selo de advertência no formato de um octógono preto. Mañalich, ao comentar a malsucedida experiência em seu país, declarou que o “uso massivo de selos diminuiu a sensibilidade do consumidor”. Se tudo tem selo, que diferença faz?
Outro ponto de atenção é com relação à base de declaração da rotulagem, que deveria ser por porção consumida. Mais de 90% das porções regulamentadas pela própria Anvisa são menores do que 100 g ou 100 ml. Ao adotar esse critério, a proposta corre o risco de levar o consumidor ao engano. Por exemplo: uma barra de cereal de 30 gramas pode receber um rótulo dizendo que seu conteúdo é alto em açúcar, quando seria alto, de fato, em 100 g, e não em 30 g.
O modelo de advertência não traz informações suficientes para auxiliar o consumidor a avaliar e comparar os alimentos e fazer as melhores escolhas de acordo com suas necessidades pessoais e familiares. O que contribui para uma dieta equilibrada é a informação. Em vez de apenas um alerta “alto em”, defendemos o modelo com os avisos “baixo” (verde), “médio” (amarelo) ou “alto” (vermelho) —uma referência às cores do semáforo e com o percentual de VD (valor diário de quantidades de nutrientes que devemos consumir para uma alimentação saudável) para que o consumidor conheça a presença daquele nutriente na porção do alimento ou da bebida.
A indústria participa ativamente dos debates desde o início, pois a mudança no rótulo, com todas as informações essenciais na frente da embalagem e disponibilizadas de forma prática e rápida, vem ao encontro de valores importantes para o setor —transparência e diálogo—, além de beneficiar o maior interessado em todo esse processo: o consumidor brasileiro.
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