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Policiais que se matam

Cifras anormais de suicídio entre agentes merecem atenção imediata do Estado

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Viatura policial em frente ao Hospital Sírio Libanês, em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

Patrulhar grandes cidades brasileiras pode constituir, sem dúvida, atividade de grande risco. Mas não vêm só de criminosos as ameaças às vidas dos policiais.

Em 2018, ao menos 104 agentes cometeram suicídio no país, número que supera o das mortes decorrentes de confronto em serviço, 87. Tais dados, reunidos pela primeira vez em âmbito nacional, constam do recém-lançado 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Os organizadores do levantamento afirmam, porém, que a quantidade de suicídios tende a ser muito maior, pois há estados que não reportam suas estatísticas, a fim de esconder o problema, e outros que nem sequer contabilizam os casos.

Jogar luz sobre a questão é decerto o primeiro passo para enfrentá-la. É o que começa a fazer o estado de São Paulo, por meio de estudo produzido pela ouvidoria da polícia que traz detalhes de uma situação alarmante. Em 2017 e 2018, nada menos que 17 policiais civis e 39 militares tiraram a própria vida. 

No biênio, o suicídio foi a principal causa de vitimização entre os agentes civis e a segunda entre os PMs —atrás apenas dos homicídios ocorridos em períodos de folga. 
As taxas de mortes por 100 mil indivíduos, considerados os efetivos de cada uma das corporações, foram de 30,3 e 21,7, respectivamente, bastante acima do anotado na população do estado, 5,8.

Tal discrepância sugere que o suicídio dos policiais tem relação direta com as condições de vida e de trabalho desses profissionais, que lidam diariamente com uma realidade repleta de dores e tristezas. Homicídios, perseguições, estupros, assaltos e brigas, entre outras situações violentas, fazem parte de seu cotidiano.

A situação não raro é agravada por condições precárias de trabalho —que incluem déficit de profissionais, salários sofríveis e delegacias sem estrutura— e por uma cultura institucional que valoriza a resistência diante de adversidades.

Completa o quadro de dificuldades a omissão do poder público com relação à saúde mental dos agentes. No caso da Polícia Militar, a estrutura existente abrange apenas 35% das unidades do estado. Já na Polícia Civil ela nem mesmo existe: há duas psicólogas e duas assistentes sociais para um efetivo de 28 mil pessoas.

O trabalho da ouvidoria precisa dar origem a providências, e a assistência psicológica e psiquiátrica a esses profissionais deve estar entre as primeiras preocupações.

editoriais@grupofolha.com.br

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