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Água alta, fogo também

Veneza tem mais enchentes; Pantanal, Austrália e Califórnia sofrem sob chamas

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Enchente em Veneza, na Itália - Manuel Silvestri/Reuters

O fenômeno da “acqua alta” é frequente em Veneza, a ponto de imagens da praça de São Marcos inundada se tornarem quase um lugar comum. Ocorre que as enchentes vêm batendo recordes, a sugerir que a elevação do nível do mar causado pela mudança do clima global tem algo a ver com isso.

Na terça (12), a laguna que banha a cidade italiana subiu 1,87 m, a segunda pior marca desde que se iniciou o registro sistemático das ocorrências, em 1923. A pior inundação se deu em 1966 (1,94 m).

Vários fatores podem concorrer para o flagelo veneziano, como vento e chuva fortes, a exemplo do acontecido nesta semana. Esses componentes, entretanto, também tendem a se agravar com o aquecimento global, pois o calor adicionado na atmosfera impulsiona o motor que produz tormentas.

A repetição constitui outro indício da influência da crise do clima para potencializar a “acqua alta”. Nas quatro últimas décadas do século 20, houve uma dezena delas e só um ano com duplicação do evento; outras dez aconteceram de 2008 a 2019, com três desses anos apresentando ocorrências duplas.

Noutras paragens, fogo, e não água, inferniza a população e o ambiente. No Pantanal de Mato Grosso do Sul, 14 dias sem chuva de outubro para novembro permitiram que queimadas consumissem 1.730 km² de vegetação, superfície maior que a da cidade de São Paulo. Este 2019 contabilizou a maior extensão incendiada em 12 anos.

As chamas ameaçam igualmente a população da Austrália. Extremos de estiagem, ventos de 80 km/h e altas temperaturas facilitam a propagação em centenas de focos nos estados de Nova Gales do Sul e Queensland, numa frente com mil quilômetros de extensão.

Incêndios são recorrentes em terras australianas, mas não se tem notícia de tamanha emergência. Até subúrbios de Sydney estão ameaçados, a meros 15 km do centro da maior cidade do país.

A Califórnia também voltou a queimar, como acontece agora todos os anos. Os incêndios ganham nomes próprios, e alguns, como Taboose e South, ardem há 69 dias. O maior deles, Kincade, devorou 315 km² ao longo de outubro.

Céticos sempre tentarão argumentar ser difícil provar que todos esses eventos extremos decorrem da mudança climática. O simples aumento da frequência de desastres, assim como a gravidade que vão adquirindo, sugere ser mais prudente pôr o ceticismo de lado.

editoriais@grupofolha.com.br

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