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Dilema chinês

Pequim precisa equilibrar seus interesses e resposta ao eleitorado em Hong Kong

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Manifestantes protestam com a luz de celulares, em Hong Kong - Marko Djurica/Reuters

Eleições para Câmaras Municipais costumam ser relegadas ao segundo plano no mundo todo, dados o caráter paroquial e a multiplicidade dos temas em pauta.

Em outro cenário não seria diferente em Hong Kong, no domingo (24), mas os quase seis meses de protestos que chacoalharam a região tornaram o pleito local um referendo sobre o jugo de Pequim.

Há 22 anos, a China comunista recebeu de volta o território que havia sido do Reino Unido desde 1842. Comprometeu-se a preservar o regime liberal na cidade por ao menos 50 anos; a partir daí, poderá ou não alterar tal status.

O modelo de “um país, dois sistemas” serviu bem aos novos mestres. Se o peso de Hong Kong na economia chinesa decresceu desde então, de 18% para 3% de seu Produto Interno Bruto, a região se mantém como a janela da ditadura para o mundo das finanças.

Cerca de 65% dos investimentos estrangeiros que entram e saem da China passam pelo território. Isso explica a cautela com que Pequim trata a atual onda de protestos ali, evitando repetir o massacre de estudantes de 1989.

Os atos foram disparados pela proposta de uma lei que facilitava a extradição de cidadãos para encarar o sistema judicial chinês, e não o modelo ocidental local.

A lei foi arquivada, mas as manifestações continuaram. Na votação do domingo, os democratas levaram 17 de 18 conselhos locais, com cerca de 57% da votação total.

O número, que trouxe um arrefecimento temporário dos protestos, escamoteia os 43% que permanecem fiéis a Pequim —e não significa uma reviravolta, o que estaria configurado em vitórias no Parlamento e no Executivo.

Ocorre que a votação para o Legislativo, em 2020, só elege 35 dos 70 deputados. O restante vem de um arranjo em que setores profissionais escolhem representantes.

O regime comunista influencia essas postulações. Nada sugere que os comunistas permitirão mudanças como eleições universais, que possibilitem risco de separatismo e estimulem outras regiões.

O dilema do líder Xi Jinping é como equilibrar a necessidade de controlar o ex-território britânico e dar alguma satisfação aos eleitores, como apurações de abusos policiais.

Em meio a duras negociações comerciais com Pequim, os EUA aprovaram lei que prevê punições a autoridades chinesas e honconguesas por excessos durante os protestos. Isso pode afetar negócios americanos em Hong Kong, e é no bolso que a crise se faz sentir mais.

editoriais@grupofolha.com.br

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