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Diplomacia pueril

Ao defender embargo a Cuba, Itamaraty muda para agradar aos EUA, sem ganho

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Os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump se encontram na ONU, em setembro - Alan Santos/PR

Ao declarar apoio ao embargo econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos, o governo Jair Bolsonaro (PSL) deu mais uma mostra da maneira imatura como conduz a política externa brasileira.

Nesta quinta (7), o país votou contra uma resolução da Organização das Nações Unidas que condena o embargo, conjunto de medidas adotadas pelos EUA para estrangular a economia cubana em 1960, logo após a vitória da revolução liderada por Fidel Castro.

Como em anos anteriores, a condenação obteve o apoio de maioria expressiva, com votos de 187 países. Além do Brasil, só Israel e os próprios EUA votaram contra.

É certo que Bolsonaro nunca escondeu a antipatia pela ditadura cubana e o desejo de alinhamento com os americanos. Ainda assim, a maneira como sua opção foi feita e as justificativas apresentadas pelo Itamaraty são preocupantes.

O Brasil sempre votou contra o embargo, em respeito a normas internacionais e à prática de condenar sanções unilaterais.

Desta vez, porém, o país cedeu docilmente à pressão dos Estados Unidos, que sugeriram que o Brasil seria considerado tolerante diante das violações de direitos humanos praticadas em Cuba e na Venezuela se não revisse sua posição.

De nada serviram os apelos do representante brasileiro na ONU, o embaixador Mauro Vieira, que apontou riscos criados para os interesses brasileiros com a guinada.

Consumada a mudança, o chefe do Itamaraty, Ernesto Araújo, foi às redes sociais fazer uma imprecação contra Cuba, Venezuela e o comunismo —talvez esquecido de que horas antes a Petrobras se associara a estatais chinesas para explorar o  petróleo do pré-sal.

O discurso pode agradar aos seguidores de Bolsonaro, mas não ajuda a proteger os interesses brasileiros. Se amanhã outro país quiser impor sanções ao Brasil porque ele não cuida direito das suas florestas ou por outro motivo qualquer, a defesa será mais difícil.

Além de não avaliar com atenção os riscos, o Itamaraty também não parece ter examinado os resultados obtidos pelo embargo.

Passadas quase seis décadas, é evidente que as restrições só serviram para dificultar a vida dos cubanos e aumentar a resistência do regime castrista, que pode culpar os EUA por tudo que vai mal na ilha.  

Nada disso parece importar para Bolsonaro. Com seu empenho em agradar Trump, ele espera remover barreiras a produtos brasileiros nos EUA e obter outras vantagens. Até agora, nada conseguiu.

editoriais@grupofolha.com.br

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