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Projeto personalista de Bolsonaro traz risco de acentuar fragmentação de apoio

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O presidente Jair Bolsonaro, durante encontro dos Brics em Brasília - Sergio Lima/AFP

Em dez caudalosos parágrafos, o manifesto de fundação da Aliança pelo Brasil, partido que pretende dar sustentação personalista a Jair Bolsonaro, não toca no propalado liberalismo econômico associado ao governo do presidente.

Não é casual. Bolsonaro nunca foi um liberal ao longo de sua vida partidária em oito siglas até aqui. O acoplamento de economistas ortodoxos à sua equipe serviu mais como fiador para os mercados de sua aventura presidencial do que como prova de conversão.

Textos como esse não significam muito na prática. A Aliança, nome que remete à agremiação de apoio ao regime militar, tem em seu programa ênfase na identificação com a liderança do presidente e sua criticada agenda de costumes, e só.

Para os fins colocados, é o que basta. Malsucedido na tentativa de tomar para si o PSL que o hospedou para a campanha de 2018, Bolsonaro embarcou no primeiro projeto de partido criado para uma família no Brasil moderno.

A fim de disputar a eleição municipal do ano que vem, a Aliança tem menos de cinco meses para obter registro no Tribunal Superior Eleitoral. Não é fácil.

Não serão surpresa disputas judiciais por acusações de fraudes com a ratificação cartorial de assinaturas, mas isso não impediu políticos de ir em frente no passado, como Gilberto Kassab e seu PSD.

A diferença, a despeito do fato de que Bolsonaro emprega o mesmo advogado que auxiliou o ex-prefeito paulistano na sua empreitada em 2011, é que o presidente nada tem de agregador.

Decerto que as eleições de 2020 fomentarão uma concentração do quadro de candidaturas, devido ao veto às coligações no pleito proporcional, e nesse sentido compreende-se que Bolsonaro queira uma sigla para chamar de sua.

Entretanto a jogada também favorece uma fragmentação ainda maior da representação congressual —hoje há nada menos que 25 partidos na Câmara, nenhum deles dominante em termos de bancada.

O antes nanico PSL tem hoje 53 deputados, o segundo maior contingente após o PT, e aliados do presidente especulam uma Aliança com cerca de 30 nomes na Casa.

Não é exatamente animador em termos de encaminhamento de propostas ou para evitar movimentos contrários ao Palácio do Planalto, como comissões de inquérito e convocações.

No presidencialismo brasileiro, é a caneta do mandatário máximo que modula o jogo político. Isso tem mudado aos poucos, como a condução pelo Parlamento da reforma da Previdência demonstra, e não será com um partido mediano e radical que Bolsonaro terá a vida facilitada do outro lado da praça dos Três Poderes.

editoriais@grupofolha.com.br

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