Descrição de chapéu

Queda do Muro, 30

Paira incerteza sobre Alemanha, esteio da UE, com saída de Merkel em 2021

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Em 1989, alemães derrubam o Muro de Berlim - Andreas Von Lintel/AFP

A queda do Muro de Berlim, passados 30 anos a se completarem neste sábado (9), simboliza bem mais que a derrocada do socialismo no Leste Europeu. Ela marcou o ressurgimento de uma Alemanha grande e única, exorcizada porém do espectro expansionista e totalitário que encarnou na primeira metade do conturbado século 20.

A reunificação das duas nações começou sob o signo da liberdade e da paz. Antes de ruir a muralha erguida em 1961, ao longo de 1989 alemães-orientais fugiam da ditadura comunista para o Oeste ou tomavam igrejas e praças no Leste para gritar: “O povo somos nós”.

Foram as multidões da chamada Revolução Pacífica que romperam a fronteira, não a Alemanha Ocidental, os Aliados ou o capitalismo. Sem elas não se esburacaria a Cortina de Ferro nem haveria reunificação alemã em 11 meses, como disse à Folha Marianne Birthler, uma de suas líderes.

Outra mulher seria catapultada desse levante democrático para o palco central da história: Angela Merkel. A jovem física aderiu à União Democrata-Cristã do chanceler Helmut Kohl e ali ascendeu, saindo de sua sombra para tornar-se o esteio da União Europeia.

Chanceler desde 2005, quando a fase mais custosa da reunificação já se consumara, Merkel parece ter utilizado o melhor de sua formação híbrida entre Leste e Oeste para erguer a Alemanha como força de estabilização na Europa e no mundo do pós-Guerra Fria.

Cientista, abraçou a causa do clima e assumiu liderança nas negociações pela descarbonização. Solidária, enfrentou tentações xenófobas entre compatriotas.

Diplomática, mantém abertos canais de diálogo com Vladimir Putin e suas pretensões geopolíticas. Inflexível, liderou a defesa das regras da UE na crise do euro —em causa própria, pois a economia alemã depende crucialmente da exportação e, assim, da estabilidade monetária em seu maior mercado.

A bonança e a solidez da Alemanha, entretanto, hoje suscitam dúvidas. O crescimento econômico se aproxima de zero.

A própria Merkel anunciou que não concorrerá a chanceler na próxima eleição, em 2021. A sucessora pela CDU será Annegret Kramp-Karrenbauer, da qual não se sabe se reunirá condições para conter o crescimento da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD).

Após três décadas, começam a surgir trincas no imponente edifício da Alemanha reunificada.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.